I Simpósio de Direitos Humanos e Interdisciplinaridade: Articulações no Enfrentamento aos Discursos de Ódio é realizado com sucesso

O auditório lotado deu bem a dimensão da importância do tema e o interesse despertado pelo I Simpósio de Direitos Humanos e Interdisciplinaridade: Articulações no Enfrentamento aos Discursos de Ódio, realizado nesta quinta-feira, 25, no auditório da Caixa de Assistência dos Advogados de Sergipe (CAASE). O evento foi promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Sergipe (OAB/SE), por meio da Comissão de Direitos Humanos e o Conselho Regional de Psicologia (CRP), através da sua Comissão de Direitos Humanos, contou com a participação de conselheiros e membros de comissões da OAB, representantes do Conselho Regional de Psicologia de Sergipe e de prefeitos. O presidente da OAB, Inácio Krauss, foi representado pelo diretor-tesoureiro, David Dias Garcez de Castro Dória.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, José Robson Santos de Barros, ressaltou a história da Comissão de Direitos Humanos da OAB. Segundo ele, a OAB e a Comissão em toda a sua história têm como pilar principal a defesa da sociedade.

Robson Barros chamou atenção para o momento difícil pelo qual o País atravessa, com o acirramento dos discursos de ódio e destacou a importância do Simpósio e também do Pacto Estadual pela Promoção dos Direitos Humanos na Educação Básica, que foi lançado durante o evento. “Queremos paz e não guerra, ao invés de armas nós queremos livros, educação, saúde, cultura e políticas sociais preventivas”, disse.

Lutas e dificuldades

O presidente do Conselho Regional de Psicologia de Sergipe (CRP19), Claudson Rodrigues de Oliveira, disse que o momento atual é de dificuldades, mas também de muita luta e de muita resistência e a Psicologia não foge dessa luta.“Na quarta-feira, 24, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liminar, ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) mantendo íntegra e eficaz a Resolução CFP nº 01/99, que determina que não cabe a profissionais da Psicologia no Brasil o oferecimento de qualquer tipo de prática de reversão sexual, uma vez que a homossexualidade não é patologia, doença ou desvio. A Resolução permanece, os psicólogos não vão fazer terapia de reversão sexual, não existe cura para o que não é doença. Essa é mais uma conquista em meio a tantas dificuldades”, salientou.

O conselheiro e presidente da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia de Sergipe, Baruc Correia Fontes, revelou que a discussão sobre direitos humanos é pertinente não só para quem sofre com a exclusão, mas também para quem dissemina.

“Acho muito pertinente a nossa luta aqui hoje para demarcar esse espaço de conversa e de diálogo. A ideia de direitos humanos está muito atrelada à área de Direito apenas, e a nossa proposta é exatamente de desconstruir essa ideia. Direitos humanos é uma discussão que envolve a todo mundo enquanto cidadão, enquanto profissional. Esse espaço aqui demarca o início dessa parceria com a OAB e a necessidade que nós temos da interdisciplinaridade dentro das temáticas dos direitos humanos”, afirmou.

Palestras

Duas palestrantes, a psicóloga, Mestre em Psicologia Social, Doutora em História, Pós-Doutora em Psicologia e professora no ensino superior, Flávia C. S. Lemos; e a professora efetiva do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Direito e Doutora em Sociologia, Andréa Depieri de Albuquerque, abordaram as temáticas relacionadas aos discursos e a cultura do ódio, respectivamente.

Flávia C. S. Lemos abordou o tema “Enfrentamento aos Discursos de Ódio: Uma Abordagem sob a Perspectiva Transdisciplinar da Psicologia em Coextensão com o Campo dos Direitos Humanos”.

Na exposição, ela ressaltou a campanha dos Conselhos de Psicologia “Discurso de ódio não”.  Segundo Flávia, a campanha foi lançada no ano passado, no Conselho Federal de Psicologia (CFP). Como integrante da Comissão Nacional de Direitos Humanos do CFP, a psicóloga afirmou que tanto ela quanto os outros integrantes da comissão têm viajado para lançar a campanha nos Conselhos Regionais.

Conforme Flávia, a campanha busca dar visibilidade aos preconceitos, estigmas e as inúmeras formas de violência que estão na base dos discursos de ódio, que são sustentadas por discursos de ódio. “Uma série de violências são sustentadas por esses discursos, que são produzidos por fundamentalismos, sectarismo, intolerâncias, dificuldades subjetivas em lidar com alteridade, com a violência estruturando o campo da sociabilidade, e a partir dos racismos institucionais e estruturais”, disse.

Cultura do ódio

Ela também mostrou as maneiras de lidar com essas práticas em termos de romper com elas. “Isso implica a historicização dessas práticas, implica um olhar para a diferença que acolha e compreenda a diferença, que não veja a diferença como ameaça e também implica na democratização da sociedade na educação e direitos humanos, na construção do sujeito ético e na aposta de uma cultura de paz e na produção do bem comum”, considerou.

“O Combate a Cultura do Ódio: Uma Abordagem Geral Chamando à Reflexão sobre Nosso Papel no Combate ao Ódio e a Intolerância” foi à temática abordada pela professora Andréa Depieri de Albuquerque.

Na exposição, Andréa Depieri fez uma reflexão sobre as falas de ódio, trabalhando como um fenômeno que não é local, e que nesse momento se dá mundialmente. Segundo ela, é preciso pensar um pouco porque isso está acontecendo e quais são as ferramentas para o enfrentamento na esfera pública.

“É preciso que os discursos de ódio não sejam incentivados pelo poder público, pelas cadeias de comando. É absolutamente necessário que quem exerce o Governo tenha uma fala dura e sistemática contra o ódio, contra os abusos e a favor e na defesa da garantia da diversidade, da multiplicidade de expressões que as pessoas têm”, pontuou.

Andréa Depieri ressaltou ainda que individualmente as pessoas vão precisar aprender a lutar contra isso. Ela disse que há um curso que está sendo dado em Berlim para que as pessoas possam conseguir discutir com seus familiares. “Esse não é um problema local e nesse momento há uma série de pessoas pensando como é que a gente vai conseguir voltar a ter um diálogo fraterno entre nós mesmos. Essa não é uma resposta fácil, essa é a questão do momento, está todo mundo pensando o que a gente pode fazer para superar esse momento”, disse.