No Dia da Consciência Negra, solenidade de compromisso é marcada por defesa dos direitos humanos

Realizada no Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira, 20, a solenidade de compromisso de novos advogados e advogadas chancelou a necessidade da defesa diária dos direitos humanos, relacionando o papel da advocacia com a construção de um mundo de respeito.

A oradora da turma, Wezia Mylena dos Santos Ferreira, em um discurso ovacionado pelo público, relembrou a relação entre o Direito e a construção de um universo de diferenças, ponderando como imprescindível, para tanto, a figura do ser advogado ou advogada.

“Enxergo nessa profissão a ideia de uma ponte capaz de romper estigmas ao mesmo tempo em que dialoga com outros conhecimentos. Hoje, no dia da consciência negra, é relevante refletir sobre o patamar da consciência racial que esse dia coloca em evidência”, afirmou.

Wezia explanou que o patamar de consciência é o que situa o ser humano no âmbito de um movimento social em oposição a desigualdades (de classe social, gênero, raça, etc). “É preciso desmistificar a ideia de que somos iguais enquanto se ignora o que está acontecendo no país”.

“É através da negação do racismo e da discriminação social que se formou a ideia de uma falsa democracia racial pacífica, onde se preconiza que todos estão em um mesmo pé de igualdade, ignorando critérios materiais através de uma miscigenação violenta que foi romantizada”.

A oradora pontuou que é preciso enxergar não só as diferenças, mas também os privilégios de estar em uma sociedade cisheteropatriarcal, que mata uma pessoa LGBTQI+ a cada 16 horas e garante uma expectativa de vida mínima de apenas 35 anos para pessoas transexuais.

“Acredito que o aprendizado acontece de forma linear, e não hierárquica. Reconhecer que a advocacia é uma profissão que deve ser valorizada não acima, mas em conjunto de outras, sob um olhar de paridade. Trata-se da construção de pontes rumo à garantia de direitos”, afirmou.

O presidente da OAB/SE, Inácio Krauss, chancelou que a data deve ser lembrada pela luta diária e intransigente dos direitos do ser humano – um dos papeis da advocacia. “É momento de renovar empenho pelo respeito, pois ainda há discriminações racial e social imensas”.

O ex-presidente da OAB/SE e desembargador do Tribunal de Justiça do Estado, Edson Ulisses Melo, responsável por proferir a mensagem de boas-vindas aos novos profissionais, também falou sobre o papel da advocacia na defesa dos direitos humanos e do Estado Democrático.

“Há uma interpretação equivocada de que direitos humanos são para humanos direitos. Mas na verdade são direitos para salvaguardar garantias que são desrespeitadas. É a defesa de injustiçados, defesa das minorias, defesa do respeito à lei”, ponderou o desembargador.

“Advogar não é ciência, mas sim arte. É a vocação em defesa das instituições democráticas e dos indefesos. É a vocação contra o despudor da administração da coisa pública e a desesperadora lentidão da justiça. Sem advocacia, sobretudo, não há democracia”, abalizou.

O currículo de Edson Ulisses foi proferido pela conselheira seccional da OAB/SE e esposa do desembargador, Maria do Carmo Déda Chagas de Melo. Em sua fala, Maria do Carmo ressaltou a relevância da cerimônia, afirmando ser uma honra participar de solenidades como esta.