I Workshop da Comissão de Igualdade Racial da OAB/SE é realizado com sucesso

Nessa quarta-feira, 18, foi realizado no Plenário da Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe, o I Workshop da Comissão de Igualdade Racial. O evento, que integra a programação do Dia da Consciência Negra, comemorado nesta sexta-feira, 20 de novembro, foi aberto pelo presidente da OAB/SE, Inácio Krauss, e contou com a participação da presidente da Comissão de Igualdade Racial, Monalisa Dijean; do diretor geral da Escola Superior de Advocacia (ESA), Kleidson Nascimento; da presidente da CAASE, Hermosa França; de demais integrantes da Comissão de Igualdade Racial e de pessoas interessadas no tema.

Na abertura, Inácio Krauss enalteceu a importância do evento e da programação que vem sendo desenvolvida no mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra. “Desde o início do mês estamos realizando comemorações, debates e reflexões sobre o Dia da Consciência Negra, tendo sempre a frente à Comissão de Igualdade Racial”, afirmou.

O advogado Antônio Correia Matos foi convidado pelo presidente da OAB para falar na abertura do evento. Na oportunidade, ele parabenizou a OAB pelo evento e revelou que nos anos 80, como estudante de Direito da Universidade Federal de Sergipe fez parte da União dos Negros de Aracaju (UNA).

“Desenvolvemos lá alguns trabalhos, mostramos a cultura negra e trabalhamos para impedir que houvesse restrições a cultos de religiões africanas e manter a raça negra em pé de igualdade em todas as circunstâncias. Aquele era um período mais difícil porque a legislação que havia em nosso favor ali estava tomando corpo. Hoje as consciências já se mostram mais abertas, mas mesmo assim nos defrontamos com situações que por mais que o tempo passe, que nos achemos inatingíveis chegam até nós”, disse.

Luta constante

Ele afirmou que é preciso estar sempre organizado e que a luta tem que ser constante e permanente. “Ninguém se assume racista, mas a conduta do racista se expõe. Com relação ao advogado, tentam nos inibir quando estamos na rua, tentam separar o cidadão do advogado. Como o policial diz que é policial 24 horas, o advogado também é advogado 24 horas. E em qualquer situação ele tem por obrigação defender o seu múnus, seja na defesa de terceiro ou na sua própria. E foi isso que fiz na noite do dia 1° de novembro quando fui abordado por uma viatura policial que me parou na Rua Lagarto, em Aracaju. O carro estava sendo conduzido pelo meu filho. Ao me dirigir para a viatura, tentando me identificar como advogado e me antecipar a identificação, o policial disse de maneira ríspida, volte para o seu veículo, não quero saber quem você é. Eu voltei e ao retornar ao veículo, o policial determinou que todos descessem e em seguida sofri a busca pessoal, o chamado baculejo. Qual porquê dessa abordagem”, relatou.

O presidente Inácio Krauss ressaltou que desde o dia 3, a Comissão de Igualdade Racial vem trazendo os relatos não só de sergipanos como de pessoas de todo o Brasil e que durante o Workshop todos os presentes tiveram a oportunidade de ouvir um relato ao vivo. “Esses relatos têm que vir cada vez mais para que a gente possa conseguir conscientizar aqueles que ainda insistem na prática do preconceito e do racismo”, afirmou.

A presidente da Comissão de Igualdade Racial, Monalisa Dijean, pontuou que cada um tem a sua luta individual. “Só nós sabemos as nossas lutas diárias, as nossas lutas nos fóruns, nos presídios, só nós sabemos como e de que forma devemos nos portar, que é bem diferente da raça branca. Só nós sabemos as nossas dores”, disse.

Monalisa ressaltou ainda que desde março, com a posse da Comissão de Igualdade Racial a OAB vem abrindo as portas e dando apoio total a essa causa, que é uma causa que não é só da instituição, mas de toda a sociedade.

Palestras

A primeira palestra “Negro em Espaço de Poder” foi realizada pelo presidente da ESA, Kleidson Nascimento. Em sua fala Kleidson destacou a importância do Workshop e de todas as iniciativas que vêm sendo realizadas pela Comissão de Igualdade Racial. “É a casa da cidadania cumprindo o seu papel que vai muito além da representação de uma categoria profissional”, salientou.

Kleidson que foi delegado de polícia no Estado da Paraíba, disse que uma das coisas que buscou nos pequenos espaços de poder que a vida acabou lhe concedendo foi a consciência de que o poder deve ser exercido com enorme responsabilidade. Ele disse que não se pode colocar o cidadão sob condições subumanas, não se pode lhe dar tratamento degradante ainda que tenha cometido o pior dos pecados, e que a lei deve para todos.

“Certa vez pedi que o agente de polícia me desse a chave e que fechasse a grade, para que eu tivesse dentro da carceragem ainda por um instante a sensação daquele que é preso. E eu confesso que é a pior das sensações ainda que eu soubesse que a qualquer momento eu sairia”, disse.

Racismo institucional

Kleidson revelou ainda que poder econômico transforma até o discurso. “Quantas vezes não ouvimos falar que este é um negro de alma branca. Esta é uma forma infame tão recorrente. Têm também pessoas que por ter dinheiro não é vista por sua cor. Quantos de nós negros não entramos em locais e percebemos pessoas incomodadas com a nossa presença”, enfatizou.

A agente comunitária de saúde e integrante do Conselho Municipal do Direito da Mulher de Aracaju, Gigi Poetisa, realizou uma apresentação. “Ninguém segura mão de Miguel que foi morto sem proteção, e do meu povo preto que sofre pela escravidão”, declamou.

A colaboradora da Comissão de Igualdade Racial, Lucileide Ribeiro, falou sobre “Racismo Institucional” no campo da educação. Na sua abordagem ela destacou o constrangimento identitário que o indivíduo preto passa no ambiente escolar. “O indivíduo preto passa por ridicularizações na escola ele é atingido de tal maneira que é obrigado a passar por um processo identitário que não é compatível ao seu corpo”, revelou.

Religiosidade

Segundo Lucileide, a identidade do indivíduo preto é desconstruída e construída uma outra a partir da imagem do indivíduo branco. “É triste saber que um dos primeiros lugares que o indivíduo preto passa por essa experiência é na escola”, afirmou.

A mestre em políticas sociais e sócia-fundadora da Sociedade Omolàiyé, Iva Sônia, falou sobre “Religiosidade”. “Religiosidade é uma tendência para os sentimentos, para as coisas sagradas”, disse.

“Falar sobre esse processo também é falar sobre as relações de poder e os negros no espaço de poder. Nós sabemos que religião é um espaço de poder determinante em todas as esferas da sociedade brasileira”, afirmou.

Apresentações culturais

Após as palestras, aconteceram apresentações culturais. Houve uma Oficina de Turbantes realizada por Sara Miranda; uma exposição de quadros de Allan D’Xangô, uma Oficina de Maquiagem, realizada por Rebeca Lopes; e uma apresentação do capoeirista Alex Wanderson.