OAB/SE realiza palestra e discute o tema da intersexualidade

A Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe (OAB/SE), por meio da Comissão de Direitos LGBTQI+, promoveu no último dia 11 de dezembro, a palestra Solidariedade Intersexo. O evento realizado no Plenário da Ordem contou com a participação de representantes de diversas entidades.

As palestras do evento foram apresentadas pela advogada e presidente da Comissão de Direitos LGBTQI+, Mônica Porto Cardoso; pelo psicólogo, Francisco Alves; pelo represente da Associação e Movimento Sergipano de Transexuais e Travestis (Amosertrans), Daniel Lima Menezes; pela representante da Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil, Maria Eduarda.

A presidente da Comissão de Direitos LGBTQI+, Mônica Porto, que é uma mulher intersexo e especialista em direito homoafetivo e de gênero falou sobre o tema da intersexualidade.

Segundo ela, a pessoa intersexo pode se esconder atrás de uma aparência, mas questiona até quando se esconder é bom?! “Porque quando a pessoa começa nos impasses de questões hormonais, de que ela terá que se definir por causa da sociedade, que pede para que ela se defina, porém é um direito dela querer ou não se definir, é bom frisar isso, ela vai precisar de profissionais que sejam capacitados. No caso do Estado de Sergipe, eu tive uma experiência ruim, que foi um tratamento mal feito de hormonização, tive hemorragia interna, fui para um especialista em São Paulo para poder ver essa questão, tinha especialista em Sergipe tinha, mas primeiro o plano não cobre, segundo é muito complicado ter serviços do SUS. Em São Paulo você acha, mas aqui em Sergipe não tem”, afirmou.

Mônica relatou ainda existe um ambulatório trans, no entanto, ele não está aberto para pessoas intersexos. “Como podemos chegar para fazer o tratamento?”, questiona. Ela acrescentou também que “é algo extremamente complicado e eu sou privilegiada porque eu tenho condições financeiras de pagar um tratamento e mesmo assim não tive o tratamento adequado”, disse.

A presidente da Comissão ressaltou que o foco maior do evento foi exatamente esse, a necessidade de falar da existência do intersexo, porque se não for falado os profissionais não vão se capacitar e nunca terá o tratamento necessário e, pior ainda, muitas crianças serão mutiladas todos os dias ao nascer, porque é preciso se escolher e não pode se escolher.

“Aqui no Brasil só existem dois sexos quando a criança nasce, e se o pai não escolher ela fica sem certidão de nascimento, não tem como fazer nada sem certidão, é algo extremamente complexo e que a gente está só discutindo sobre o que precisa sim existir a questão do terceiro sexo, porque o interssexual ele não é nem feminino nem masculino e não tem nada de errado com isso”, salientou.

O psicólogo Francisco Alves disse ser importante ter espaços que discuta a intersexualidade e chamar a atenção de todas às violências que são voltadas à população intersexo e a necessidade de tornar visível a existência dessas pessoas.

Segundo ele, as pessoas intersexos não podem carregar o rótulo da patologia e tem o direito à autonomia e de viverem as suas experiências sexuais, afetivas, familiares e de vínculo. “O impacto psicológico das violências que sofrem podem levar ao transtorno depressivo, ansiedade e até mesmo ao suicídio, por serem submetidos (as) a diversas violações dos direitos humanos que vem da medicina, da família, da religião e outras instituições por não se encaixarem em padrões e desafiar a ideologia frágil de sexo binário. A interfobia é real, e mata”, revelou.

Francisco Alves disse ainda que ficou muito feliz por ter feito parte de um evento tão lindo. “Gratidão a todos e a todas que se fizeram presentes”, enfatizou.

O farmacêutico e presidente da Amosertrans, Daniel Lima Menezes, avaliou o evento como de extrema importância, um marco na representatividade das pessoas intersexos em Aracaju. “As pessoas intersexos são invisibilidade e/ou não reconhecidas desde seu nascimento, quando seus corpos são modificados com o intuito de “naturalizá-los”, o que na verdade estão escondendo é a existência dessas pessoas. Logo, quando elas se desenvolvem e tem a auto-percepção disso, sofrem conflitos que poderiam ser dirimidos se não houvesse todo esse tabu sobre a intersexualidade e a compulsoriedade de adequar esses corpos em nossa sociedade preconceituosa”, pontuou.

Conforme Daniel Menezes, a busca pela visibilidade e solidariedade intersexo é para que esse tipo de situação seja evitada e que tanto a Medicina quanto a família e sociedade saibam que essas pessoas existem, que precisam ser respeitadas e que possuem o direito de se expressar e ser quem são antes de ser decidido pela pessoa.