Artigo: Resiliência

Há 75 anos o Japão foi bombardeado pelos Estados Unidos, mais especificamente nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, que receberam duas bombas atômicas, responsáveis pela rendição do país nipônico e deixando um rastro de sangue e morte instantânea em mais de 120 mil pessoas.

Para a reconstrução da nação e tornar o país arrasado pelas bombas em uma das mais fortes economias mundiais hodiernas, seu povo, usou da acepção da palavra resiliência para se reerguer.

Aqui no Brasil, estamos passando pelo período pandêmico do coronavírus que já ceifou mais de 100 mil vidas e ainda não sabemos quando teremos uma vacina para aliviar a angústia de milhões de brasileiros que não estão imunes ao vírus e dependem do frágil sistema de saúde pública e da perseverança e doação dos bravos profissionais da saúde.
Na advocacia tivemos perdas de colegas que sucumbiram ao COVID-19 e somos solidários as suas famílias, bem como a todas as outras que tiveram um ente querido levado pela doença.

Nesta semana, 11, comemoramos o Dia da Advocacia e, entre os colegas de profissão, o tom vem em uma nota só: o que podemos tirar de bom dessa pandemia?
Eu responderia: nada!

Não se tira nada de bom de uma guerra seja ela geopolítica ou sanitária, como a que vivemos. A pandemia apenas nos deixará experiências.

Experiência de que é possível um advogado recém ingresso na OAB fazer uma sustentação oral no STF utilizando os mesmos recursos de que uma renomada banca dispõe;

De um advogado que não possui uma sala ou escritório para atender seu cliente, de poder atendê-lo por videoconferência realizada de sua casa;

De a classe ter acesso a seminários, congressos e conferências sem sair de sua residência, dentre outras experiências que levaremos da pandemia.

A rápida transformação digital ocorrida nesse período deixou a advocacia mais igual em relação as experiências preditas. Essa transformação digital, não terá volta. Devemos usá-la, associada ao estudo permanente, como uma melhoria para a classe, uma forma de reduzir custos e distâncias. Porém, ao mesmo tempo, devemos ficar atentos para que o Judiciário não queira se distanciar da advocacia e relativizar as nossas prerrogativas históricas, também se valendo, de forma inversa, dos rápidos avanços tecnológicos.
Nesse momento temos que nos inspirar no povo japonês, virar a página – sem esquecer obviamente das vidas perdidas – e recomeçar com resiliência e a coragem e bravura que são inerentes à advocacia nessa nova era!

Inácio Krauss, advogado, presidente da OAB/SE