Cinco painéis ilustram o primeiro dia de realização da II Conferência Estadual da Mulher Advogada

A Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe (OAB/SE), por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher Advogada (CDDM), e com o apoio da Caixa de Assistência dos Advogados de Sergipe (CAASE) e da Escola Superior de Advocacia (ESA) deu início nessa quarta-feira, 24, a programação da II Conferência Estadual da Mulher Advogada. No primeiro dia do evento, foram realizados cinco painéis com a abordagem de diferentes temáticas.

No Painel 1, o tema abordado foi Participação da Mulher no Sistema OAB e na Advocacia. Participou como moderador o secretário-geral da OAB/SE, Aurélio Belém. As palestrantes foram a conselheira federal da OAB/SE, Glícia Salmeron; a secretária-geral adjunta da OAB/SE, Andrea Leite; e a conselheira federal da OAB/AL, Fernanda Marinela.

O moderador e secretário-geral, Aurélio Belém, disse que se sentiu extremamente honrado em presidir o primeiro painel da II Conferência Estadual da Mulher advogada. “A Conferência começou brilhantemente, estou emocionado com as falas, as poesias e músicas que nos trouxeram belíssimas reflexões”, afirmou.

Atuação no sistema OAB

Ele também registrou a necessidade e importância de uma reflexão sobre a igualdade que deve ser feita por todos e em especial pelos homens. “Esse tema da igualdade, da equidade de gênero, da necessidade de a mulher ocupar um espaço que não pertencem aos homens, de resgatar e pagar por justiça essa dívida histórica que nós mesmos impusemos ao longo de uma história cruel que foi vivenciada, repleta de discriminação e de preconceito é que hoje precisamos refletir, agir e implementar na prática essa equidade”, disse.

A conselheira federal Glícia Salmeron disse que foi convidada pelo ex-presidente da OAB/SE e da OAB Nacional, Cezar Britto para participar da Ordem como conselheira e ela nunca mais saiu. “Da Seccional fui para a Caixa de Assistência dos Advogados, onde me apaixonei pela grandiosidade e pelo trabalho que pode ser feito lá”, afirmou.

Ela disse ainda que precisou recuar algumas vezes na participação dentro sistema para se fortalecer, mas logo depois era chamada de volta. “Isso é uma trajetória de vida institucional construída com harmonia e com pessoas que pensam igual, com pessoas que sabem pensar coletivamente e quando a gente pensa coletivamente dentro do sistema OAB a gente não consegue pensar individualmente, as escolhas muitas vezes não são nossas, é escolha realmente de um grupo, grupo esse ao qual eu sempre pertenci e acho que valeu a pena pertencer a esse grupo”, ressaltou.

Sistema paritário

A secretária-geral adjunta, Andrea Leite, disse que estava muito alegre em falar sobre a Participação da Advogada na Seccional Sergipe. “A OAB/SE é vanguardista por ser realmente um exemplo a ser seguido por todas as seccionais e pelo Conselho Federal. Desde a última gestão do nosso presidente Henri Clay Andrade começou a ter uma participação efetiva das mulheres na OAB. Na atual gestão, capitaneada pelo nosso querido presidente Inácio Krauss tivemos mais avanços já que a paridade de gênero foi estendida também a Diretoria. Hoje compondo os cargos de direção da OAB estamos Ana Lúcia Aguiar, nossa vice-presidente e eu como secretária adjunta, então nós temos paridade de gênero e também representação racial, já que eu sou advogada negra. Mas não é somente na Diretoria que a mulher advogada tem voz e vez em nossa Seccional. O Conselho Seccional é formado por maioria de conselheiras abnegadas que vêm desempenhando um trabalho irretocável. O Tribunal de Ética também se destaca pela participação da mulher advogada e ainda destaco as advogadas que compões e presidem as Comissões Temáticas da OAB/SE”, revelou.

A palestrante e conselheira federal da OAB/AL, Fernanda Marinela, disse que falar da participação das mulheres dentro do Sistema OAB e no mercado de trabalho é dizer em primeiro lugar que as mulheres já conseguiram uma longa trajetória de conquistas. “Quando paramos para avaliar o ponto que nós estamos precisamos primeiro olhar para trás, olhar para atrás reconhecendo de onde nós saímos e aonde queremos chegar. Temos que observar que já caminhamos muito e já avançamos muito em direitos e obrigações e em conquistas para as mulheres. E a partir dessa convicção nós temos a coragem de continuar lutando e modificando a nossa realidade”, ressaltou.

Fernanda Marinela falou sobre o tratamento dado a mulher pelas Constituições de 1824 e a de 1988. “A Constituição de 1988, a tão sonhada Carta da Democracia, a tão sonha Constituição cidadã, que estabelece que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações. Em obrigações eu tenho dúvidas se nós somos efetivamente iguais porque percebo que trabalho mais que os homens e tenho mais obrigações do que eles, portanto acho que devemos ficar atentos a essa realidade. E direitos precisamos lutar ainda pela efetivação de muitas garantias que estão no texto legal, no texto constitucional, mas que ainda não modificaram a nossa realidade”, enfatizou.

Mãos dadas

A vice-presidente da OAB/SE, Ana Lúcia Aguiar, destacou a importância da II Conferência Estadual da Mulher Advogada, da organização e enalteceu os participantes do primeiro painel. Ana Lúcia afirmou que ninguém caminha sozinho. “É necessário caminhar coletivamente, caminhar de mãos dadas, principalmente agora nesse momento pandêmico que estamos vivendo e que nos faz lembrar o quanto nos faz falta um abraço, um aperto de mão, o sorriso presencial. Não está sendo fácil. A gente precisa seguir juntos, refletir e fazer um trabalho de parceria. A nossa OAB é uma instituição forte e que tem dentro das suas atribuições precípuas esse dever de unidade, de lutar pela sociedade e por todos os advogados e advogadas. Essa nossa Conferência nos traz justamente esse pensar coletivo”, afirmou.

Painel 2

O Painel 2, abordou o tema Prerrogativas da Mulher Advogada sob a Perspectiva Interseccional. A moderadore foi a presidente da Comissão LGBTQIA+ da OAB/SE, Môni Porto, e teve como palestrantes a membro consultora da Comissão Nacional da Mulher Advogada do CFOAB, Mariana Lopes, a membro da Comissão de Acessibilidade e Direito da Pessoa com Deficiência da OAB/SE, Thialy Macêdo; a advogada e Mestra em Direito PUC-SP, Kamila Gouveia, e a integrante da Comissão da Diversidade Sexual da OAB/SP, Márcia Rocha.

A moderadore Môni Porto disse que não seria uma Conferência a respeito das mulheres advogadas se não se falasse da interseccionalidade. “Sabemos que os caracteres sociais das mulheres advogadas vai definir também quais as necessidades delas. Temos que saber que não é homem x mulher, nós temos outras pessoas, nós temos advogadas, advogados e temos que entender um pouco a gama dessas mulheres para podermos começar a discutir quais as necessidades delas, quais as prerrogativas necessárias para elas”, afirmou.

A membro consultora da Comissão Nacional da Mulher Advogada do CFOAB, Mariana Lopes, falou sobre a sua história. “Eu sou uma advogada negra, carioca que reside no Paraná há 7 anos. A discriminação racial fez parte da minha vida. No Rio de Janeiro a discriminação social e como diz o Sílvio Almeida aquela falsa ideia de democracia racial nos faz ali viver numa ilusão de que o racismo é uma coisa distante da gente. Quando vim morar no Paraná eu vi o racismo de frente e isso me assustou principalmente no exercício da advocacia. Fui convidada a sair da sala de audiência porque o juiz pensou que eu fosse a mulher do preso. Eu sou advogada criminalista e ele me apontou a porta de saída porque a mulher do preso tinha que esperar do lado de fora. Ali foi um momento muito difícil para a minha vida. É por conta daquele dia que hoje eu estou no Sistema OAB. Nunca fiz parte da OAB no Rio de Janeiro e eu procurei a OAB/PR por conta dessa violação de prerrogativa”, revelou.

Prerrogativas

A integrante da Comissão da Diversidade Sexual da OAB/SP, Márcia Rocha, disse que a sua presença na OAB é muito simbólica. “Meu corpo fala por mim, a minha existência fala por mim. Eu me denomino como travesti, até por um pouco de questão política mesmo, para trazer o preconceito para mim explodir com ele. Falo três línguas e sou empresária também. Tive vários privilégios em minha vida, antes de me assumir, depois que me assumi eu uso para a luta”, ressaltou.

Ela contou que a companheira dela, a advogada Ana Carolina Borges, foi uma vez ao Fórum resolver um assunto e tinha um segurança na porta que a impediu de entrar pelo tamanho da saia. “A saia era três dedos acima do joelho e ela ficou indignada com a situação porque acabou não entrando no Fórum. Uma semana depois ela voltou e o segurança novamente a impediu de entrar. Ela filmou e o presidente da OAB Bauru fez uma manifestação e a OAB São Paulo também fez um ofício ao juiz explicando que a prerrogativa de determinar a roupa dos advogados é da OAB. Ele depois pediu desculpas. Eu tive nesse Fórum depois com uma saia no mesmo comprimento da Ana Carolina e ninguém me barrou”, relatou.

A advogada e Mestra em Direito PUC-SP, Kamila Gouveia, disse que veio trazer a pauta da mulher, da mulher advogada, e da mulher advogada com deficiência. “A gente fala tanto em diversidade de corpos, corpos no sentido de biótipo, cor da pele, gênero e eu quero trazer justamente esse olhar. Falando da prerrogativa da mulher advogada com deficiência, falando de preconceito, que é tudo ligado intimamente ao tema de efetividade de direitos”, enfatizou.

Kamila Gouveia fez também uma provocação a respeito da diversidade de corpos não somente relacionado ao biótipo, mas também relacionado a deficiência. “Sempre questionei, sempre trouxe essa crítica, essa problemática, com soluções também”, afirma. Ela também falou da importância da LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais – e falou da ideia legislativa que oficializa a LIBRAS proposta por ela.

A membro da Comissão de Acessibilidade e Direito da Pessoa com Deficiência da OAB/SE, Thialy Macêdo, contou um pouco da sua experiência como mulher, com deficiência e advogada. “Apesar de ser jovem, tenho 26 anos, sou uma pessoa com deficiência. Há quatro anos fui diagnosticada com meningioma, um tumor benigno que se localizou na minha coluna lombar e durante anos eu tive vários diagnósticos, pesquisei vários médicos, e muitos inclusive falharam em identificar qual era o meu problema. Finalmente quando foi diagnosticado o tumor já estava com 6cm, pressionando o meu nervo ciático e devido a essa pressão eu acabei ficando com uma sequela e hoje eu tenho uma paraparesia no pé esquerdo, meu pé esquerdo é caído e eu uso uma órtese para me locomover, devido a isso não posso usar salto”, revelou.

Segundo Thialy, as suas colegas advogadas sabem o quanto o salto é importante na profissão, porque a advocacia é muito movida pelas formalidades, pelas aparências. “De certa forma quando isso é fragilizado porque as ideias são formadas, os preconceitos também são formados”, disse.

Sobre a acessibilidade física, Thialy reconhece que hoje em dia é possível verificar mais adequações em estabelecimentos privados e públicos. Mas, segundo ela, ainda há sim uma barreira física para a pessoa com deficiência em locais, por exemplo, que não há elevador, em que se depara com escadas. “Eu, graças a Deus posso me deslocar por escada, mas conheço pessoas com deficiência que se utiliza de cadeira de rodas e tem que pedir ajuda para advogados ou familiares para chegar ao local desejado, seja numa audiência ou em qualquer órgão público. Esta é uma dificuldade realmente que eu e muitas advogadas enfrentamos”, salientou.

Painel 3

O Painel 3 teve como tema Carreira e Maternidade Prerrogativas da Advogada Gestante e Lactante.  Foram moderadoras da temática a conselheira seccional Gabriela Anete de Oliveira Brasil. Também participam como palestrantes do Painel, a conselheira federal da OAB/DF e presidente de honra da Comissão Nacional da Jovem Advocacia do CFOAB, Daniela Teixeira; e a coordenadora do GT Mulher e Participação Política da CDDM-OAB/SE, Niully Campos.

A moderadora e mãe de Cauê, 4 anos, Gabriela Brasil, disse que o Painel traz questões viscerais para ela. “Senti  na pele a beleza e a dor de ser mãe e advogada. Também sabemos quantas mulheres deixam suas carreiras por conta da maternidade e o quanto isso tem íntima relação com a diferença salarial entre os homens e as mulheres”, pontua.

A conselheira federal da OAB/DF, presidente de honra da Comissão Nacional da Jovem Advocacia do CFOAB e autora da Lei Júlia Matos, Daniela Teixeira, disse que foi uma honra para ela ser palestrante da Conferência. “Eu acredito realmente que o presidente Inácio Krauss é um feminista, tem um Conselho paritário antes mesmo de ser norma e nós temos no Conselho Federal a bancada mais feminina do Brasil. Eu não sei se todas sabem, mas levou 90 anos para que o Conselho Federal tivesse uma bancada com três mulheres e são três mulheres de imenso valor, minha querida Dra. Adélia Pessoa, nossa querida Dra. Glícia Salmeron e nossa querida Dra. Tatiane Goldhar. Fizeram história no Conselho Federal, uma história que de certa forma nos envergonha porque levou 90 anos e ainda não foi repetida para uma bancada ter três mulheres no assento do Conselho Federal por um Estado”, disse.

Tem que incomodar

Daniela Teixeira disse ainda que é uma alegria participar da Conferência para falar da prerrogativa da mulher grávida. “Como algumas de vocês sabem eu participei da criação da Lei Júlia Matos e isso se deu muito em função de um problema que ocorreu comigo. Eu tive que sofrer na pele um pedido que eu fiz de preferência para sustentação oral negado, fiquei lá muitas horas, sai de lá direto para o hospital, tive minha bebê Júlia prematura extrema, chegou a pesar 750 gramas, nasceu de 29 semanas e ficou 62 dias na UTI. Eu precisei passar por isso. Essa lei foi feita com raiva, o altruísmo veio depois. Raiva de ter ouvido de um ministro que eu não tinha prioridade porque a lei não contemplava essa prioridade. Que a pauta era de interesse público e o meu interesse estando grávida era de direito privado. Foi exatamente essa raiva que me moveu a mostrar que nós somos metade do mundo, metade do Brasil e metade da OAB”, ressaltou.

De acordo com a palestrante, a Lei foi aprovada em 11 meses. “O que é muito raro para o Parlamento brasileiro. Aprovar uma lei no Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, Senado da República e sanção do presidente em apenas 11 meses. Não tivemos a divergência de ninguém, foi aprovada por unanimidade pelos lugares que passou, então porque não foi feita antes”, questiona. E ela mesma responde que não foi feita antes porque em nenhum desses espaços de poder tinham mulheres.  “A gente tem que incomodar, que mostrar a dor que dói na gente, tem que estar lá para tomar a decisão e fazer a mudança”, afirmou.

A coordenadora do GT Mulher e Participação Política da CDDM-OAB/SE, Niully Campos, disse que engravidou em 2019, pariu agora em 2020. Ela elogiou a fala de Daniela Teixeira e destacou a importância das mulheres protagonizarem suas próprias lutas. “Lutar por igualdade com absoluto respeito por nossas diferenças. A gente tem que reconstruir essa estratégia de luta o tempo inteiro e ressignificar o cuidado”, afirma.

Segundo Niully rediscutir o papel da mulher na sociedade é um caminho concreto para se tentar diminuir as desigualdades, o preconceito e a desvalorização que reverbera em muita violência contra a mulher, todas as violências que a gente já discute”, disse.

Ela disse ainda que está descobrindo os desafios da gestação e da maternidade há muito pouco tempo. “Falo no lugar de alguém que está no processo. Meu bebê fez um ano segunda-feira, eu me reconheço e me conheço mãe todos os dias, com todas as alegrias imensas e todas as complexidades que são inerentes a essa condição. Mas desse meu lugar reconhecendo esses muitos privilégios que tenho, com um parceiro na paternidade que eu tenho em casa, com mãe, avó e uma significativa rede de apoio e ainda assim tenho os meus perrengues pessoais”, ressalta.

Painel 4

O Painel 4 teve como temática Novas Gerações da Advocacia e o Olhar para as Mudanças do Século XXI, a Luz dos Princípios da Dignidade Humana da Pessoa Humana e da Igualdade. A moderação foi feita pelo diretor-tesoureiro da Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe (OAB/SE), David Garcez. Também participou da discussão do tema como organizadora, a vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM), Bruna Menezes Carmo, e como palestrantes a presidente da Comissão Nacional da Advocacia Jovem do CFOAB e presidente da Comissão OAB Jovem do RJ, Amanda Magalhães; o presidente do Conselho Estadual da Jovem Advocacia da OAB/SE, Carlos Eduardo Pereira Siqueira, e a vice-presidente do Conselho Estadual da Jovem Advocacia da OAB/SE, Bárbara Toledo.

O moderador David Garcez ressaltou a satisfação em poder moderar o Painel 4 da II Conferência Estadual da Mulher Advogada. “É claro que o espaço de fala é das mulheres e poder moderar para mim é uma honra. Novas gerações da advocacia é um tema que eu na advocacia já sob a tutela das novas gerações, militei assim como os demais palestrantes na jovem advocacia e ingressei na OAB já com essa política de igualdade, já ingressei na Ordem sabendo da importância disso. Na atual gestão pude presenciar o presidente Inácio Krauss com a nossa vice-presidente também capitaneando ainda mais essa conquista. Fico muito feliz e grato por fazer parte desse movimento que é nacional”, pontuou.

A vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM), Bruna Menezes Carmo, disse que é inegável que o aumento do número de advogados e advogados nos últimos anos em razão da expansão desenfreada dos cursos de Direito criam cenários de insegurança e falsa expectativa para a juventude que quer ingressar na profissão.

Resistência

Segundo ela, diante desse cenário o Exame de Ordem tem sido primordial para a segurança da advocacia e da sociedade civil, fazendo uma seleção e evitando prejuízos para essa sociedade. “Importante ressaltar que a realidade atual foi construída de um lado negativo pela pressão da política neoliberal que incentivou ao longo dos anos a abertura desenfreada de novos cursos de Direito e de um lado positivo pela necessária política de justiça social, representada pela criação do Prouni, aumento de vagas nas universidades públicas, sistemas de cotas e financiamento estudantil”, afirmou.

Ela disse ainda que advocacia segue resistindo nas mãos de advogadas e advogados de diferentes classes sociais que não desistem das suas metas de vida e de seus sonhos na profissão. “Infelizmente outra parte de profissionais desistem e migram para outras áreas, pressionados pela necessidade de sobrevivência ou pelo descontentamento, assim nesse difícil cenário se encontra a jovem advocacia e também as pessoas que perderam esse status nos últimos 10 anos, como eu”, disse.

A presidente da Comissão OAB Jovem do RJ, Amanda Magalhães, disse que só é possível operar algum tipo de mudança na sociedade e no Sistema OAB se forem enfrentados os problemas. “É importante a gente ter um olhar para as mudanças do Século XXI e essas mudanças a gente vem observando ao longo de todo esse período, mas principalmente durante a pandemia. Assim que a pandemia foi instalada a gente começou a ver um aceleramento nas relações sociais, na utilização do uso de tecnologias e uma intensificação principalmente das problemáticas, das dificuldades enfrentadas por esses dois grupos, os jovens advogados homens e mulheres, e principalmente as mulheres”, afirmou.

Com relação à Dignidade Humana da Pessoa Humana e da Igualdade ela questionou até que ponto há dignidade para a mulher e para a jovem advocacia. “A isonomia e a igualdade traz como consequência a obtenção ou não da dignidade da pessoa humana”, frisa.

O presidente do Conselho Estadual da Jovem Advocacia da OAB/SE, Carlos Eduardo Pereira Siqueira, disse que como falar das transformações do Século XXI sem pensar no que se concebe como a modernidade que talvez desde o Século XVIII em diante pauta a chamada esfera pública já que durante muito tempo e até hoje se busca quebrar a ideia de que a esfera pública é voltada para o masculino, enquanto a esfera privada, do lar estaria dedicada para o feminino. “Isso não pode se perpetuar, é disso que nós precisamos falar e é isso que nós precisamos cotidianamente combater”, enfatzou.

Segundo Carlos Eduardo, essa ideia de sujeito moderno, iluminado, é voltada para o sujeito masculino, o sujeito proprietário, o sujeito com a idade mais avançada, o sujeito adulto. “Por isso que nesse momento, no tempo atual ser mulher e ser jovem numa profissão que ainda lida com uma estrutura bastante masculinizada como é o meio Judiciário é um desafio muito significativo”, salientou.

A vice-presidente do Conselho Estadual da Jovem Advocacia da OAB/SE, Bárbara Toledo, disse que é extremamente feliz em fazer parte de uma seccional que é paritária, que preza pela paridade, não só nessa gestão, mas também na gestão anterior em que o presidente Inácio Krauss ocupava o cargo de vice-presidente. “Uma Seccional que é vanguardista e que é exemplo para as outras seccionais”, ressaltou.

Bárbara afirmou ainda que até bem pouco tempo a advocacia era vista como um grupo social similar, com a moral ética e própria. “Mas isso mudou, a pandemia veio nos mostrar que a vida precisava ser ressignificada assim como a advocacia que conhecemos também precisava ser modificada. A introdução da tecnologia na área jurídica tanto há alguns anos como principalmente agora na pandemia impactou frontalmente o perfil da advogada do advogado, impondo uma nova dinâmica no serviço jurídico e a expansão do contato social. Como seres humanos temos muito receio ao novo e nos vimos diante de uma situação que a gente teve que se modificar, teve que aprender rapidamente porque tudo foi alterado com a chegada da pandemia”, comentou.

Conforme a palestrante houve a mudança de alguns nichos a advocacia por correspondência praticamente deixou de existir. “Já que todas as nossas audiências do ano passado para cá estão acontecendo de forma on-line”, explicou.

Painel 5

O Painel 5 abordou o tema Mulheres Advogadas na Preservação da Herança e do Patrimônio Cultural da Advocacia. A moderação foi feita pela curadora do Patrimônio Histórico da Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe (OAB/SE), Manuella Vergne. E participaram como palestrantes no Painel, o ex-presidente da OAB/SE e do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), Cezar Britto, e a procuradora do Estado de Sergipe, Eugênia Freire.

O vice-presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Luiz Viana, esteve presente no painel e parabenizou a Seccional pela Conferência, além de ter agradecido o convite para participar. “Estar aqui em um painel como este é um momento muito importante. Estou aqui para aprender com Cezar Britto, Inácio e todos vocês”, revelou.

O presidente da OAB, Inácio Krauss, que também prestigiou o painel e ressaltou a presença do vice-presidente do CFOAB, Luiz Viana, do ex-presidente do CFOAB, Cezar Britto, e da palestrante Eugênia Freire. “Um painel com Cezar, Eugenia e com Viana é para realmente a gente sair enriquecido ainda mais da cultura. Sempre falo que Cezar e Viana, além da cultura jurídica têm a cultura geral onde a gente aprende filosofia, sociologia, dentre outras matérias. Viana seja muito bem-vindo”, disse.

Cotas

A moderadora do Painel, Manuella Vergne, iniciou a fala falando da importância de se ter a visão de quem é a mulher. “A mulher filha, a mulher mãe, a mulher advogada”. Segundo ela, exercer a alteridade para poder compreender a realidade do outro é um belo exercício que todos devem fazer de cidadania e de virtude. “Ocupar esse espaço que a mulher tem dentro da sociedade, dentro do Judiciário, dentro da advocacia sempre foi uma ação de luta, de perseverança e de resiliência”, afirmou.

O ex-presidente da OAB/SE e do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), Cezar Britto, destacou que a Conferência tem o rosto medalhado de Adélia Pessoa aquém ele atribui o seu gostar pelo Direito. “Como minha professora de introdução ao Estudo do Direito eu aprendi com ela que devíamos pensar o Direito não como mera reprodução das normas até porque as normas da nossa época eram normas da Ditadura Militar, absolutamente terrível, que torturava, matava e exilava os brasileiros e brasileiras”, disse.

Cezar Britto revelou que sempre pontuou que as cotas que Sergipe sempre se orgulha e que segundo ele, tem mais é que se orgulhar por ser exemplo de paridade já em dois mandatos, não é chegada, cotas é caminhada. “Chegada é a igualdade efetiva, chegada é quando nós não precisarmos mais de eventos que demonstrem a importância de termos um mundo absolutamente igual e que a igualdade seja respirada como algo absolutamente normal. Essa vai ser a nossa chegada”, enfatizou.

Cesto na cabeça

Ele também disse que não se caminha sozinho a estrada da vida. “Nós caminhamos sempre acompanhados e caminhamos já percursos desbravados. A gente tem que ressaltar muito quem teve a ousadia de desbravar caminhos quando era difícil caminhar, quando era mais complexo caminhar, quando o machismo que hoje é estrutural, mas que antes era estrutural e legal, havia uma legalização muito forte ao machismo e a gente tem que estudar cada vez mais esses fenômenos e ressaltar a importância de quem lutou”, afirmou.

A procuradora do Estado de Sergipe, Eugênia Freire, agradeceu o convite e parabenizou a OAB pelo evento. Em sua apresentação, a palestrante declamou a poesia A Mulher e o Cesto na Cabeça.

“Nós advogadas privadas, advogadas públicas levamos esse cesto na cabeça. É um cesto de processos, um cesto de prazos, um cesto de responsabilidades, um cesto de maternidade e de filhos, de compromissos da família e é um peso imenso”, disse.

Invisibilidade

De acordo com Eugênia Freire, em Aracaju, em Sergipe e no Brasil a violência contra a mulher, o feminicídio, que ainda é crescente como foi colocado na Conferência são coisas que a preocupam muito.

Eugênia também destacou a sua participação na Seccional da Ordem em Sergipe como membro da Comissão da Infância e fundadora da Comissão de Promoção Cultural, além de ter atuado como conselheira suplente e titular da instituição durante a gestão do ex-presidente Henri Clay Andrade. “Foi uma grande honra ter iniciado o trabalho da Comissão de Promoção Cultural porque a cultura como a mulher são muitas vezes desprestigiadas, são invisibilizadas. Muitas vezes quando se fala de arte não se valoriza, muito embora a Constituição de 1988 fale na valorização cultural quando se pensa em arte e cultura há muitas resistências”, afirma.

 

*As fotos da Conferência estão disponíveis no nosso Facebook.