Primeiro dia do Ciclo de Palestras “Pensamento de Mulheres Negras: vivência, militância e estudos” debateu ancestralidade e luta pelos direitos

Nesta terça-feira, às 19h, a Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe (OAB/SE), por meio do Grupo de Trabalho “Raça, Gênero e Etnia”, da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, e da Comissão de Igualdade Racial, deu início ao Ciclo de Palestras “Pensamento de Mulheres Negras: vivência, militância e estudos”. No primeiro dia, a palestrante foi a agente de saúde e sanitarista, militante do movimento feminista negro sergipano, Gigi Poetisa.

A coordenadora do Grupo de Trabalho “Raça, Gênero e Etnia” e integrante da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, Carla Caroline de Oliveira Silva, deu as boas-vindas e fez a apresentação de todas as participantes da primeira noite. “Estou muito feliz em estar com vocês aqui”, afirmou.

A vice-presidente da OAB/SE, Ana Lúcia Dantas Souza Aguiar, fez a abertura do evento. Na oportunidade, ela saudou e deu boas-vindas a todas as mulheres da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, do Grupo de Trabalho “Raça, Gênero e Etnia”, as palestrantes e aos participantes do evento. Ana Lúcia destacou ainda a história de luta das mulheres na pessoa de Tereza de Benguela. “Quando eu leio Tereza de Benguela, toda a trajetória não posso deixar de ver muitas mulheres aguerridas que hoje fazem jus a lutas das mulheres que nos antecederam”, afirmou.

Segundo Ana Lúcia Aguiar, há todo um trabalho de estudo, de reverenciamento e demonstração do que significa o Julho das Pretas. “É uma luta iniciada pelos que nos antecederam, mas que nós em pleno Século XXI ainda travamos. Ainda precisamos usar a nossa voz, o nosso grito. Já conquistamos, já avançamos muito, principalmente na nossa instituição OAB, onde aqui, hoje, temos uma mesa composta por mulheres aguerridas, de luta, além disso, já temos a participação efetiva no destino da nossa instituição, que é uma participação não só de paridade de gênero, mas também de raça e etnia”, ressaltou.

Emoção

A vice-presidente da Ordem enfatizou também que eventos como esses lhe deixa emocionada, por ser mais um ensinamento, um encorajamento, por dar mais vontade de continuar lutando e de não ter medo dos obstáculos que são impostos. “A nossa instituição OAB/SE, aqui eu falo em nome do nosso presidente, Inácio Krauss, não foge à luta, é de vanguarda”, salientou.

A presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de Sergipe, Hermosa França, ressaltou a importância do evento e saudou a palestrante Gigi Poetisa. “A minha expectativa é de mais uma vez este ser um evento brilhante. Quero agradecer a presença de Gigi Poetisa, que já me emocionei quando presencialmente participamos de um evento na sede da OAB”, afirmou.

A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da OAB/SE, Adélia Moreira Pessoa, pontuou sobre a relevância do evento. “Estamos afastados do nosso dia a dia, do nosso contato presencial, mas nós não podemos parar. Com que problemas tem se preocupado cada uma de nós? A mim me parece que o momento é de lutarmos pelo conhecimento geral de todas as leis e tratados antidiscriminatórios que o Brasil ratificou e pela implantação efetiva em nosso viver, no viver do nosso dia a dia o chamado direito contra a discriminação”, enfatizou.

Acesso à justiça

Segundo Adélia Pessoa há três dimensões do acesso à justiça, a dimensão normativa e formal, que é o reconhecimento dos direitos pelo Estado, pela sua formalização em normas; a segunda dimensão é a da existência de mecanismos, de estratégias, para tornar o acesso formal, o que está nas leis, em acesso real com sua efetividade por meio de políticas públicas; e a terceira dimensão do acesso envolve as condições de todas as pessoas em se reconhecer como sujeitos de direitos.

A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher destacou ainda a luta dos movimentos sociais, da sociedade civil organizada para a efetivação dos direitos. “Aí se colocam todos os movimentos da negritude na luta por essa efetivação”, ressaltou.

Ela disse ainda que não é preciso ser negra/negro para lutar contra o preconceito, os estereótipos que ainda permeiam a sociedade, os espaços e que têm dificultado a busca pela igualdade de todas as pessoas.

Mediação

A mediadora do evento foi a graduanda em Direito, pesquisadora em Antropologia Jurídica e colaboradora da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, por meio do Grupo de Trabalho “Raça, Gênero e Etnia”, Lucileide Ribeiro.

Ela saudou a todas as mulheres negras e também aos operadores de Direitos e demais participantes do evento. Segundo Lucileide Ribeiro, durante o Ciclo de Palestras serão discutidas as prioridades, problemáticas e de forma discriminada o perfil ao que tange ao racismo, sexismo e todas as formas de violência contra a mulher negra.

A mediadora destacou ainda que o evento recebe mulheres que vivem e pensam em uma trajetória de militância e ativismo em favor dos direitos humanos. “Saberemos o pensamento político dessas mulheres, as suas pesquisas, análise, críticas, como também as suas propostas ao alcance da cosmovisão do bem viver”, destacou.

Conforme Lucileide Ribeiro, neste ano o Julho das Pretas traz um mote relevante e ousado por meio de um tema que dialoga perfeitamente com a conjuntura brasileira “Para o Brasil genocida mulheres negras apontam a solução”.

Ancestralidade

A poeta, agente de saúde e sanitarista, militante do movimento feminista negro sergipano, Gigi Poetisa, agradeceu ao convite a OAB/SE e disse que estava se sentindo uma negra, mulher, pobre, mãe, periférica, privilegiada por estar participando do evento. “Quero pedir licença a todas, todos e todes e dizer que estou muito emocionada em compartilhar esse espaço pelo convite feito pelo Grupo de Trabalho “Raça, Gênero e Etnia” e agradecer a Dra. Adélia Moreira Pessoa, Dra. Ana Lúcia, ao presidente da OAB/SE, Inácio Krauss, e aos demais que estão aqui e nos ouvindo em casa”, disse.

Gigi Poetisa disse ainda que sabe que a luta, os enfrentamentos e desafios dentro da OAB para o corpo da mulher. “Sei que é muito difícil e desafiador ocupar esse espaço dentro da OAB e quero agradecer pela instituição reconhecer que nós mulheres precisamos ocupar esse espaço onde o patriarcado vem tentando nos eliminar há anos”, revelou.

A palestrante afirmou ainda que não se pode falar de vivência sem falar de ancestralidade. “Para falar de ancestralidade de nosso povo preto, as mulheres negras, a gente tem que partir para África, de onde nos tiraram do nosso reinado, do mundo em que nós vivíamos e que éramos reis e rainhas, e fomos trazidos de lá como animais de carga”, afirmou.

Luta por liberdade

Gigi Poetisa ressaltou também que ao abordar a ancestralidade é preciso ainda reportar um pouco a história dos corpos negros. “Durante o trajeto da África para os países em que fomos escravizados, nossas mulheres foram mortas, estupradas, massacradas, dentro dos navios negreiros, os filhos foram arrancados dos seus braços, mortas por doenças da peste, essa é a história que os livros não contam”, recordou.

Em sua fala, Gigi Poesia questionou a Lei Áurea, sancionada pela Princesa Isabel. “Não sabemos o que a branquidade escreveu nessa Carta de Alforria”, afirmou. Também ressaltou a importância dos quilombos, que em Sergipe somam mais de 50 e que lutam até hoje.

“Antes da Lei Áurea nós já formávamos nossos quilombos. Já estávamos lutando por liberdade, nosso povo negro, nossas mulheres negras nunca deixaram de lutar. Que liberdade é esta que o Brasil deu ao nosso povo que até hoje a gente busca a liberdade”, questionou.

Para assistir a palestra completa acesse aqui: https://www.youtube.com/watch?v=-m9wl9ILAho