Último dia do Ciclo de Palestras “Pensamento de Mulheres Negras: Vivência, Militância e Estudos” aborda desigualdade racial e violência contra os negros

A Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe (OAB/SE), por meio do Grupo de Trabalho “Raça, Gênero e Etnia” da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM), e da Comissão de Igualdade Racial, realizou nessa terça-feira, 27, o último dia do Ciclo de Palestras “Pensamento de Mulheres Negras: Vivência, Militância e Estudos”.

Para encerrar o evento, que iniciou no dia 6 de julho e prosseguiu nos dias 13, 20 e 27, com a participação de diferentes palestrantes, houve a apresentação da socióloga, ativista do Movimento Mulheres Negras, defensora de direitos humanos, doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos no Pós-Afro/UFBA, Vilma Reis.

A mediadora dessa terça-feira foi a defensora pública, mestranda em Direitos Humanos, coordenadora do Grupo de Trabalho “Raça, Gênero e Etnia” da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, Carla Caroline de Oliveira Silva.

“Foi um ciclo de palestras que aconteceu ao longo do mês de julho e acho importante resgatar a fala de Gigi Poetisa, nossa liderança sergipana, que trouxe na sua contribuição, na sua aula a necessidade de olharmos para os nossos sergipanos. Tivemos aqui também a fala Robeyoncé Lima, primeira advogada da Seccional de Pernambuco, também trazendo uma fala maravilhosa sobre a necessidade de a gente dar visibilidade a esse embricamento da realidade trans, do ativismo, do transfeminismo, da importância de trazermos isso para a nossa luta. Tivemos também a presença na semana passada de Sirlene de Assis, ouvidora-geral da Defensoria Pública da Bahia, que trouxe a fala da necessidade da presença dos movimentos sociais dentro dos espaços de poder institucionais. E hoje trazemos Vilma Reis”, ressaltou.

Trabalho coletivo

A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da OAB/SE, Adélia Moreira Pessoa, iniciou a sua fala elogiando a atuação do Grupo de Trabalho “Raça, Gênero e Etnia” ao afirmar que o GT funciona, produz e dá resultados.

Em seguida ela agradeceu a participação da palestrante Vilma Reis. Adélia disse que a palestra dela iluminou a caminhada do Grupo de Trabalho “Raça, Gênero e Etnia” e da Comissão. “Essas reflexões nos trazem um vigor maior para a gente continuar. Gostaria de registrar que a OAB/SE prima pela paridade de gênero desde a gestão anterior e a CDDM busca um trabalho coletivo. A luta encampada pelo GT é de décadas, a luta da equidade se dá porque acreditamos que um futuro melhor pode ser proposto”, salientou.

Conforme a presidente da CDDM, as ideias, as ações, os saberes relatados durante o Ciclo de Palestras são bases para a proposta de reconstruções e para que se possa escapar das armadilhas dos retrocessos que se avizinham. “Vamos trabalhar juntas, vamos continuar, eu quero contar sempre com a Carol, com a Vilma Reis, com a Laila, com a Brisa e com tantas outras mulheres que fazem esse GT. Muito obrigada Vilma”, enfatizou.

Palestra

A palestrante Vilma Reis iniciou a sua fala fazendo homenagem a Marielle Franco, vereadora, negra, símbolo nacional contra o racismo, assassinada com 13 tiros em uma emboscada na região central no Rio de Janeiro, juntamente com o motorista Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018. Marielle nasceu em 27 de julho e se estivesse viva faria 42 anos. “A gente está aqui para falar do Dia Nacional de Tereza de Benguela, comemorado em 25 de julho, mas também do 27 de julho. Se Marielle Franco estivesse aqui no plano visível estaria completando 42 anos. Essa é uma lacuna que nos custa muito”, disse.

Vilma Reis trouxe ainda em sua fala os que tombaram como Roberta Silva, mulher trans, que foi queimada viva no Cais Santa Rita, no Recife, no mês passado. “Neste mês de julho lamentavelmente ela foi a óbito depois de ter 40% do seu corpo ateado fogo em uma sociedade em que se espalham coisas e sentimentos muitos difíceis e desafiadores”, revelou.

A palestrante pontuou também as ocorrências ligadas a advocacia e citou os casos da advogada Valéria Santos, que foi algemada e presa no Fórum de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, em 2018; e os horrores que ocorreram em junho com o advogado, mestre em Direito e parlamentar da cidade de Curitiba, Renato Freitas. “Mais do que nunca as Comissões de Prerrogativas da OAB precisam se envolver num debate que ganha centralidade no mundo, o enfrentamento ao racismo institucional”, pontuou.

Vilma Reis chamou atenção ainda para a importância de se debater as políticas de ações afirmativas para enegrecer o Sistema de Justiça do país.

Para assistir a palestra completa acesse aqui.