Nota pública: A violenta morte de Marielle Franco revela resquícios da escravidão negra

O assassinato frio, covarde e cruel da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSOL/RJ), na noite desta quarta-feira, 14, revela mais uma página do passado que o Brasil insiste em não se defrontar: os resquícios da Escravidão Negra. Marielle combateu e vocalizou as demandas e necessidades da população pobre de periferias como a sua de origem, a Maré. Pobre, que em sua maioria, é negra.

Populações brasileiras submetidas à ausência do Estado Democrático de Direito, onde a lei e a Constituição Federal, não valem para tal população, como em outras partes da terra brasileira. E mais: em um momento em que a cúpula política do Estado do Rio de Janeiro encontra-se encarcerada por corrupção e desvios de verba pública, quem sofre a maior violência física e fatal, sem nada ter com essas práticas, é uma mulher negra que teve como bandeira a luta dos direitos humanos, dos direitos sociais e da integração da população negra.

Os tiros desferidos contra a vereadora Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, repercutem no mundo inteiro, mas devem ser lembrados pelas lutas de suas vítimas. Genocídio da Juventude Negra; Igualdade de Gênero e Direitos LGBT; Empoderamento da Mulher Negra; e Inclusão dos Afrodescendentes, em todos os níveis de educação, política, e mercado de trabalho, fazem parte do eixo da Reparação da Escravidão Negra.

Assim, no momento que nos somamos na dor de mais uma vítima da violência cotidiana, durante a celebração da Década Internacional de Afrodescendentes, é importante relembrar que esse processo repete todos os dias nas periferias com morte de negros e negras.

A Comissão da Verdade da Escravidão Negra da OAB de Sergipe, com dor e luto pelo trágico fim dessa valorosa mulher negra, reafirma seus compromissos de combate à discriminação racial e racismo, bem como a descoberta de heróis e heroínas do passado, e do presente, aos quais Marielle se junta.

Kleber Renisson Nascimento dos Santos

Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra da OAB/SE e Vice Presidente da Comissão de Igualdade do Conselho Federal da OAB