Cezar Britto e ministro Augusto César Leite de Carvalho encerram a Conferência Estadual da Jovem Advocacia

Dois reconhecidos nomes do mundo jurídico sergipano e nacional, o ex-presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB) e da Ordem dos Advogados em Sergipe (OAB/SE), Cezar Britto, e o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Augusto César Leite de Carvalho, realizaram as palestras de encerramento da Conferência Estadual da Jovem Advocacia.

O ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Augusto César Leite de Carvalho, abordou o tema “Os desafios do direito do trabalho nos novos ambientes digitais”. Ele deu início ao último painel da Conferência Estadual da Jovem Advocacia através de uma breve abordagem histórica, propôs uma reflexão sobre a mudança do período de automação do trabalho para o momento de heteromação do trabalho.

Segundo o ministro, a heteromação é um novo mecanismo e uma lógica de extração e valor no capitalismo atual. Trata-se do oposto de automação, tendo em vista que esta nunca é completa e ainda necessita do trabalho humano. Explicou que, enquanto na automação o objetivo é colocar os humanos fora do “loop”, na heteromação o objetivo é mantê-los nele.

“Quando se fala do novo mundo digital é possível traçar um novo panorama. Parece que atravessamos a fase da automação e seguimos para a da heteromação. No final do século 18 e início do século 19, quando surgiram as máquinas que produziam em larga escala, falava-se na substituição do trabalho humano, mas homens continuavam a manipular essas máquinas”.

O ministro ponderou que a humanidade vive um momento de apreensão. “Não há máquinas servindo ao homem, mas a gente não percebe que nós estamos servindo algumas máquinas. Vivemos um momento esquisito em que damos dados a plataformas digitais e grandes empresas. São tempos de apreensão e a sensação é de que não sabemos lidar com a realidade”, observou.

Em seguida, o ex-presidente da OAB Nacional, Cézar Britto, falou sobre os reflexos dos avanços tecnológicos no mundo do trabalho, indagando se no futuro a humanidade viverá uma utopia ou uma distopia. “Viveremos em um mundo distópico em que teremos que admitir que mais de um milhão de pessoas não terão espaços de trabalho e o que faremos com elas?”, questionou.

Cezar abalizou que o avanço tecnológico entra na vida dos indivíduos de forma imperceptível. “As pesquisas mostravam que o celular salvaria vidas. O médico falaria conosco ou nós iríamos comprar comida sem sair de casa e nos arriscar. A tecnologia entra em nossas vidas e nos acostumamos tanto a ela que é mesmo verdade a irreversibilidade do avanço tecnológico”.

“Os avanços são muitos, mas as consequências são o desaparecimento das perspectivas das pessoas terem um futuro digno. Estima-se, repito, que no futuro um milhão de pessoas não terão emprego. Para mim, o antídoto para o avanço é compreendê-lo como uma máquina – é mais um instrumento utilizado na velha relação dominante versus dominados”, ponderou.

Cezar Britto asseverou que é necessário analisar e entender quem financia e lucra com os desenvolvimentos tecnológicos. “Não é o aplicativo em si que é nosso adversário, mas sim quem o controla e por qual razão o controla. O contraponto a isso são os avanços humanistas e não podemos perder de vista a experiência dos mais antigos, mais experientes”, abalizou.