II Seminário de Relações de Gênero, Religiões e Direitos Humanos é realizado com sucesso

Nesta terça-feira, 22, à noite, foi realizado na Sala da Escola Superior de Advocacia (ESA) da Ordem dos Advogados, em Sergipe (OAB/SE) o II Seminário de Relações de Gênero, Religiões e Direitos Humanos. O evento promovido pela Comissão de Liberdade Religiosa da OAB/SE contou com a participação de representantes de diversas religiões e professores pesquisadores da área.

O presidente da Comissão de Liberdade Religiosa da OAB/SE, Douglas Lima da Costa, destacou na abertura do evento o trabalho realizado pela Comissão, que apesar de pequena é muito atuante. “A religião faz parte do tecido social da nossa sociedade, não tem como tirar a religião do povo brasileiro. A gente acredita muito na pauta da liberdade religiosa, o direito de culto, de crença e o direito de não crer em nada e a gente gosta de dialogar de forma ampla com todas as expressões religiosas”, afirmou.

Ele disse ainda que o momento atual é de construção e desconstrução. “É um momento de troca, de aprendizados e eu fico muito feliz e honrado de estar ao lado de todos esses mestres, doutores, especialistas e representantes de diversas vertentes religiosas, e de fazer essa ponte da academia com a vivência, que foi o intuito do nosso evento”, ressaltou.

Temáticas

O Seminário discutiu temas atuais sobre o entrelaçamento entre religiões e questões de gênero, especialmente a polêmica em torno do que se passou a denominar como “ideologia de gênero”. A discussão foi feita a partir de três eixos temáticos: “Gênero”, Ideologia de Gênero e Direitos Humanos”; “Cristianismos e Relações de Gênero” e “Religiões de Matriz Africana e Religiões de Gênero”.

A programação contou com três mesas redondas, a primeira abordou a temática “Relações de Gênero e Direitos Humanos”, que teve como expositores o professor doutor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Romero Júnior Venâncio Silva; e o professor doutor da UFS, Luís Américo Silva Bonfim.

Na segunda mesa redonda foi abordado o tema “Mulheres e Cristianismos”, com a participação da pastora da Igreja Pentecostal Fogo de Deus, Rosemary Santos Soares.

E na terceira mesa redonda a temática foi “Religiões de Matrizes Africanas e Relações de Gênero”, e teve como palestrantes o xaginandeji, bacharel em Design Gráfico, mestre em Ciências da Religião e Babalorixá do Ilé Axé Alarokê, Juracy de Arimateia Rosa Júnior, e a mamet’u de Nkisi N’dandalunda (Oxum) e licenciada em Teatro pela UFS, Maria Luísa de Andrade Ribeiro.

Palestrantes

O professor doutor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Romero Júnior Venâncio Silva, participou como palestrante da primeira mesa redonda que abordou “Cristianismos e Relações de Gênero”. De acordo com Romero Venâncio, hoje a categoria gênero virou uma disputa lamentável. “Uma categoria social, que na verdade tem apenas potencial explicativo virou na boca de fundamentalistas religiosos uma espécie de ideologia”, disse.

Ele pontou sobre homossexualidade e cristianismo, feminismo e religião, o papel da mulher nas religiões, os debates sobre tolerância e intolerância perante a categoria gênero. De acordo com Raimundo Venâncio, não há nenhum problema de uma pessoa homossexual ser religiosa, viver uma experiência religiosa. “A condição de gênero de alguém não é impedimento na prática religiosa”, disse.

O professor e palestrante parabenizou a iniciativa da Comissão de Liberdade Religiosa da OAB/SE em realizar o debate por ser um tema extremamente relevante e que tem sido ponto de discussão nas redes sociais.

A palestrante da segunda mesa redonda, que abordou o tema “Mulheres e Cristianismos”, pastora da Igreja Pentecostal Fogo de Deus, Rosemary Santos Soares, falou sobre os desafios de exercer a função de pastora. Segundo ela, a sua dificuldade maior é conciliar as diferentes tarefas de ser dona de casa, mãe e de dirigente de uma igreja evangélica. “As funções da mulher são muitas, ela tem que cuidar dos filhos, da casa, trabalhar fora de casa e ainda pastorear, é muito complicado conciliar todas essas tarefas e separar um tempo para cada coisa”, revela.

Rosemary Santos que atua como pastora há sete anos disse que no início da atividade como pastora foi difícil porque se tratava de uma função mais exercida por homens. “Hoje já percebo que há uma melhor aceitação. No meio evangélico já há uma aceitação melhor. Creio que Deus tenha derrubado essas barreiras”, pontua.

A palestrante da terceira mesa redonda “Religiões de Matriz Africana e Religiões de Gênero”, a mamet’u de Nkisi N’dandalunda (Oxum) e licenciada em Teatro pela UFS, Maria Luísa de Andrade Ribeiro, falou sobre os marcadores existentes dentro da religiosidade que caminham a passos lentos diante do que é o entendimento dos corpos dentro das religiões de matriz. “Há uma resistência de alguns sacerdotes, algumas sacerdotisas, que são mais antigos de entender as nossas vivências diante de alguns tabus que existem”, afirmou.

Maria Luísa explanou como se dá esse processo de acolhimento já que se trata de uma religião de afeto e de amor, mas que ainda há o separatismo. Ela contou também a sua experiência como a primeira renascida como mulher trans travesti. “Uma mãe de santo trans, como é que pode? Novamente joga a gente a margem e nos dá o impasse de comandar algo. É dada aos travestis e as pessoas trans a incapacidade de exercer qualquer função”, revelou.

A palestrante ressaltou que atualmente não tem escutado nada, apenas olhares que não a intimidam tanto. “A discussão sobre esse tema ainda é muito pouca aqui no Estado.

O palestrante Babalorixá Juracy de Arimateia destacou a sua experiência religiosa enquanto representante masculino de uma casa de candomblé e destacou como as religiões de matrizes africanas são baseadas em mitos e oralidade. Afirmou que acredita que o processo de aceitação da representação masculina dentro dos terreiros será um processo crescente e natural.