Julho das Pretas: OAB/SE realiza workshop para debater a presença da mulher preta advogada e suas contribuições sociais

Apresentações artísticas e culturais, vivências nas carreiras jurídicas e institucional e palestras. Assim foi Workshop “Julho das Pretas – Em Defesa Delas: A Mulher Negra Advogada em Prol da Reconstrução Social e sua Ocupação na Política de Ordem”, realizado na última quarta-feira, 26, no auditório da Caixa de Assistência dos Advogados de Sergipe (CAASE).

O evento, promovido pela Comissão de Igualdade Racial da OAB/SE e presidido pela secretária-geral adjunta da OAB/SE, Clara Arlene Ferreira, teve como foco as lutas, conquistas e resiliência da mulher preta, os caminhos já desbravados por aquelas que antecederam e reafirmar a importância da perpetuação da luta pela ocupação dos espaços.

O “Julho das Pretas” é um mês dedicado a luta e a resistência da mulher negra. A campanha deste ano enalteceu e comemorou as conquistas já alcançadas, a contribuição das mulheres pretas para evolução social e a luta contra o racismo estrutural, que visa invisibilizar a técnica, habilidades e qualidades das mulheres pretas do campo jurídico.

“É uma emoção muito grande receber nesse evento três mulheres protagonistas em suas áreas, que são a pura expressão da representatividade, para falar de suas vivências e experiências. A OAB/SE assume uma postura antirracista, reafirma seu comprometimento com a sociedade sergipana e eu reforço: a Casa da Cidadania sempre está aberta a todas e todos”, afirma a secretária-geral adjunta da OAB/SE, Clara Arlene.

O presidente da Comissão de Igualdade Racial, Carlos Cesar Zuzarte, falou da importância do combate ao racismo e a luta das mulheres negras estarem sempre em debate, e explicou que o evento faz parte das ações desenvolvidas pelo projeto ‘OAB Antirracista’.

“Esse evento destaca a presença e grandes contribuições das mulheres negras advogadas para a sociedade e dentro da política institucional. Sergipe se coloca na linha de vanguarda de luta e de combate, para que essa consciência racial possa chegar em todas as seccionais e nos sistemas da OAB. E é essa consciência que a Comissão de Igualdade Racial vem construindo, paulatinamente, e com muita resiliência, junto a advocacia sergipana”, ressalta Zuzarte.

Palestrantes
A delegada de polícia, Josefa Valéria Nascimento falou sobre o papel da mulher negra na segurança pública e os desafios enfrentados na área. Ela fez um apanhado de mais de 15 anos de sua atuação na polícia civil do estado.

“Fazendo uma reflexão dos meus 17 anos de polícia, noto que nós mulheres negras lidamos até hoje com dois tipos de preconceito: o racismo e machismo. Durante meu tempo de polícia, eu não tenho conhecimento de mulher negra em cargos de coordenação ou direção. Já homens negros, sim, eles ocupam lugar de destaque. Nós, mulheres negras, não. Qual será o motivo? Precisamos estar sempre em eventos como esse, debatendo e combatendo o racismo estrutural e lutando para que as mulheres, o negro, os LGBTQIAPN+ ocupem esses espaços para quebrar os estigmas enraizados”, aponta.

Outra palestrante da noite foi a advogada especialista em Direitos Humanos e em Direito Constitucional para o Afrodescendente, e presidente da Comissão da Mulher da OAB da Bahia, Silvia Cerqueira, que abordou a valorização da mulher negra na área jurídica e na OAB.

“Fazer esse evento de hoje, no seio da Ordem dos Advogados, é de uma significação extraordinária, porque é sinal de que nós estamos lutando em busca do aumento da representativa negra. Desde a última eleição da OAB que o cenário para a mulher e para a mulher negra mudou completamente. Temos a paridade de gênero e as cotas raciais, inclusive, no Conselho Federal da OAB. Avançamos muito, mas ainda temos uma longa estrada a trilhar”, afirma.

A ex-ministra da Mulher, Família e Diretos Humanos do Brasil e desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia, Luislinda Valois, contou sua história, todo o sofrimento e preconceito que enfrentou durante sua vida. “Eu sempre digo: mulheres, busquem seus lugares de direito. Se o direito é seu, lute por ele. Meu caminho foi longo e sofrido, mas eu venci porque persisti e lutei pelo meu direito”, enfatiza.

A presidente da mesa, Clara Arlene Ferreira, encerrou o evento usando uma frase da filosofia africana, que fala sobre a necessidade da ocupação dos espaços e o protagonismo da mulher negra em suas próprias histórias.

“Enquanto os leões não escreverem as histórias, os caçadores sempre serão os heróis! É preciso ressaltar a importância da reverência às mulheres negras que foram leoas e heroínas de suas histórias. Temos a história da dra. Luislinda no judiciário brasileiro, da dra. Silvia Cerqueira, advogada preta e protagonista na aprovação das cotas institucionais, da delegada Josefa Valéria, que faz história na Polícia Civil, e da saudosa Rejane Maria Pureza do Rosário, que representa todas as mulheres pretas de Sergipe. Eu convoco todas as advogadas negras do estado a escreverem e assumirem o papel de heroínas em suas histórias, contribuírem para a reconstrução social e para uma OAB antirracista”, finaliza.

Além das palestras, o workshop contou com a apresentação da Orquestra Colégio Acrísio Cruz e do grupo ‘Um Quê de Negritude’.

Por Innuve comunicação
ASCOM OAB/SE