Roda de conversa promovida pela OAB/SE debate o suicídio infanto-juvenil e jogos virtuais

Os índices de suicídio infanto-juvenil no Brasil têm crescido nas últimas décadas. Dados do Ministério da Saúde apontam que de 2000 a 2015, os casos registrados no país aumentaram 65% entre pessoas com idade de 10 a 14 anos e 45% na faixa etária entre 15 a 19 anos.

Preocupada com esses números, a Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe, através da Comissão da Infância, Adolescência e Juventude, promoveu nesta quarta-feira, 31, uma roda de conversa para debater o crescimento das taxas de suicídio e o aparecimento de jogos e desafios virtuais, a exemplo da Baleia Azul, nos quais redes de envio de mensagens foram criadas com vários níveis de tarefas a serem executadas pelos jovens, sendo o suicídio a fase conclusiva.

Responsável pela abertura do evento, a presidente da Comissão, Glícia Salmeron, explicou que os jogos virtuais fazem com que as crianças se sintam empoderadas para realizar ações que as ferem de uma maneira que elas não percebem. “É necessário que existam limites, cuidados e esclarecimentos. O adulto deve acompanhar o uso da internet e dos jogos virtuais pelas crianças e a adolescentes para explicar que certas brincadeiras disseminadas não são saudáveis”.

Resgate do Sentir

Primeira expositora da roda, a psiquiatra Ana Angélica Salmeron ressaltou a necessidade de desmistificar a questão da saúde mental, pontuando que 90% dos casos de suicídio podem ser evitados e, por este motivo, é fundamental falar sobre o tema.

“Está claro que o suicídio não é um fato, é o resultado de um adoecimento, a consequência de coisas que aconteceram antes. Por isto, não podemos ignorar esse assunto e, desvalorizando o sofrimento psíquico de alguém, temos que olhar para as pessoas, percebê-las”, disse.

De acordo com ela, a adolescência é um período conturbado, em que os jovens se deparam com mais responsabilidades, onde o social se torna mais importante e lidar com vitórias e frustrações se torna algo comum.

“Os pais devem estar próximos, buscar o diálogo com seus filhos para garantir que eles tenham um ambiente de apoio e se sintam à vontade para conversar sobre o que gostam e sentem”, frisou Ana Angélica.

Em seguida, a psicóloga escolar, Carla Bezerra, afirmou que as pessoas estão deixando de sentir e procurando mecanismos para desviar das sensações que fazem parte da vida humana. “O sentir precisa ser colocado em pauta. As relações olho no olho devem ser estimuladas. Porque é pessoalmente, e não através de uma tela, que podemos observar a reação do outro”.

Segundo Carla, o uso da internet é um dos meios utilizados neste processo de distanciamento do mundo real e permitir que as crianças estejam tão inseridas no espaço virtual desde cedo termina atrapalhando o desenvolvimento delas.

O delegado da Superintendência de Polícia Federal em Sergipe, José Lara, enfatizou que ao longo dos anos o homem se preocupou com o mundo externo e acabou esquecendo de trabalhar o seu psicológico, de compreender suas emoções e aprender a geri-las.

“Recebemos cotidianamente uma série de informações e criamos necessidades fantasiosas, como a de estar por dentro de todas os assuntos que nosso ciclo de amigos tem acesso, que ocasiona uma sensação de vazio. Temos que olhar para nosso interior e resgatar a capacidade humana de relacionar-se”, considerou o delegado.

Adolescente x internet

Membro da Comissão de Direito Digital da OAB/SE, Vinicius Gonçalves, conversou com os adolescentes presentes sobre o tempo que passam online e salientou que vivemos em uma sociedade da informações, onde os jovens têm amplo acesso à internet e cabe aos pais acompanharem a rotina dos filhos no mundo virtual.

“Existem ferramentas de controle parental que podem garantir que as crianças e adolescentes tenham acesso um conteúdo que esteja de acordo com a sua faixa etária e permita utilizar a internet de uma maneira mais saudável, que não atrapalhe o desenvolvimento desses jovens”, realçou o advogado.

 Para Vítor Alves, membro do Comitê de Participação de Adolescentes do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), por vezes a internet inibe as emoções, seja através das redes sociais ou de jogos virtuais. “Eu, assim como vocês, gosto de rede social, mas digo com toda sinceridade: aproveitem o que a idade oferece. Brinquem, saiam com seus amigos, vivam as experiências desta fase e saibam utilizar o lado bom da internet, o conteúdo que agrega conhecimento a nossa vida”.

A jovem Jaqueline Tavares ressaltou que o receio do julgamento e dos rótulos, é um dos motivos que levam os adolescentes se isolarem e guardarem seus sentimentos. “Temos medo de procurar nossos pais e contar o que está acontecendo, porque não sabemos como eles irão nos olhar. Acabamos vivendo para saber o que as outras pessoas vão achar de nós. Esse medo é principal barreira que devemos vencer para conversa sobre o que passamos e buscar ajudar para superar o momento difícil”.

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