II Conferência Estadual da Mulher Advogada: painel 6 abordará “Feminismo Negro e Advocacia”

Na quinta-feira, 25, o feminismo negro e a advocacia serão temas do painel 6 da II Conferência Estadual da Mulher Advogada. O evento acontece de forma virtual, com transmissão ao vivo através do canal da Seccional Sergipe da Ordem dos Advogados do Brasil no YouTube.

Promovida nos dias 24 e 25, a Conferência tem o intuito de debater sobre a atuação da mulher na advocacia: os desafios, dificuldades, avanços e permanências. O evento contará com oito painéis e uma roda de conversa. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas neste link.

No dia 25, sob o tema “Feminismo Negro e Advocacia”, o painel 6 será realizado às 16 horas e terá como moderadores o presidente da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB/SE, Ilzver Matos, e a defensora pública de Sergipe, Carla Caroline Silva.

São organizadoras do painel a presidente da Comissão de Direito Urbanístico e Ambiental da OAB/SE, Robéria Silva; a presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB/SE, Monalisa Dijean; e a presidente da Comissão de Direito Médico e Saúde da OAB/SE, Clarissa Marques.

“Sinto-me extremamente honrada em participar, sendo preta e fazendo parte de um painel de extrema importância sobre o feminismo negro. É ele a designação que nomeia mulheres atuantes, tanto na esfera da discussão de gênero quanto na luta antirracista”, disse Monalisa.

A palestrante será a secretária da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra da OAB/PI, Maria Sueli Rodrigues. Em sua avaliação, abordar o tema é importante porque oportuniza produção de novos entendimentos sobre a diversidade da desigualdade de gênero.

Demandas distintas

“Somos de uma cultura que se fez com hierarquia, seja entre a vida humana e as outras vidas, chamadas de natureza, seja a hierarquia entre humanos, por meio da biologização do poder, em que a pessoa é inferiorizada por suas características biológicas”, pontua Maria Sueli.

“O feminismo negro é uma visão de gênero e raça que apesenta que as demandas feministas não contam com uma visão apenas, pois há diversidade entre as mulheres, o que tornam as demandas até mesmo opostas”, explica Maria Sueli.

“A exemplo, o feminismo branco apresenta necessidade de as mulheres estarem no mundo do trabalho. Com as mulheres negras sempre ocorreu o oposto, sempre foram da esfera pública no mundo do trabalho e muitas vezes precisam é ficar em casa educando filhas e filhos”.

Experiências e histórias

“O painel será oportunidade ímpar de conhecer ações que têm sido promovidas na OAB Piauí e na Comissão da Verdade Sobre a Escravidão Negra sobre o reconhecimento de Esperança Garcia como a primeira advogada do Brasil, além das dívidas históricas que temos com a população negra, em especial com as mulheres negras”, considera Ilzver Matos, moderador.

“Para mim será um aprendizado estar nesse painel como moderador, por ter a oportunidade de ouvir as experiências e histórias dos que que fizeram e fazem a história desse país, mas que foram violentamente apagados do nosso cotidiano e dos livros didáticos em nome da necessidade de se contar uma história onde os protagonistas não fossem as pessoas negras”.

Relevância

A defensora pública, Carla Caroline, moderadora no painel, considera o tema relevante, tendo em vista “que a mulher negra ainda é muito invisibilizada na sociedade, sobretudo nos espaços de poder”. “Há uma ausência de mulheres negras ocupando esses espaços de relevância”.

Ela avalia ser uma honra participar do painel. “É ótimo que a OAB traga esse tema, destacando o que diz respeito à advocacia feminina. Fico muito feliz e honrada de participar como moderadora. Espero poder contribuir com esse diálogo tão rico e cheio de potências”, afirma.

Pertencimento

Para a presidente da Comissão de Direito Urbanístico e Ambiental da entidade, Robéria Silva, uma das organizadoras do painel, realizar de um espaço de debate como esse fomenta, sobretudo, um sentimento de pertencimento. “Estarei inserida em meu lugar de fala”, diz.

“É um sentimento de luta gratificante e muito importante, principalmente para mim, no atual momento, pois estou me tornando negra. O sistema tende a apagar nossa ancestralidade e nos apagar enquanto pessoas pretas. Por isso não nascemos negras; nos tornamos”, pontua.

Robéria pondera sobre a diferença entre a vivência da mulher preta e da mulher branca. “Abordar esse assunto é importante, pois o feminismo negro é diferente do feminismo em si. São outros fatores sociais. A luta da mulher preta, como advogada, também é diferente”.