Segundo dia do Ciclo de Palestras “Pensamento de Mulheres Negras: Vivência, Militância e Estudos” trouxe reflexões sobre o racismo e o machismo

Nessa terça-feira, 13, às 19h, foi realizado o segundo dia do Ciclo de Palestras “Pensamento de Mulheres Negras: Vivência, Militância e Estudos”. O evento, promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe (OAB/SE), por meio do Grupo de Trabalho Raça, Gênero e Etnia, da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, e da Comissão de Igualdade Racial, teve como palestrante a primeira advogada trans do Estado de Pernambuco e membra da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB-PE, Robeyoncé Lima.

A coordenadora do Grupo de Trabalho “Raça, Gênero e Etnia” e integrante da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, Carla Caroline de Oliveira Silva, deu as boas-vindas e fez a apresentação da mediadora.

Carla Caroline também ressaltou que o Grupo de Trabalho “Gênero, Raça e Etnia” tem um papel importantíssimo e tem que tratar do binarismo, da Cis, hétero normatividade enquanto estrutura opressora da sociedade. “A gente tem que trazer essa questão do trans feminismo para dentro da nossa Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher porque não é uma temática paralela ao feminismo, mas uma temática que concerne ao feminismo”, afirmou.

Importância da temática

A abertura do evento foi feita pela secretária-geral adjunta, Andrea Leite de Souza, que deu as boas-vindas a palestrante Robeyoncé Lima e a todos os organizadores e participantes do Ciclo de Palestras. “Esse é mais um evento realizado pela OAB/SE que traz a importância da discussão das questões da igualdade racial, da igualdade de gênero, e que infelizmente a gente ainda tem que conviver com a discriminação e com a intolerância”, disse.

Andrea Leite revelou ainda o seu orgulho em participar do Ciclo de Palestras e parabenizou todas as mulheres e todos os homens presentes, militantes que defendem a causa da igualdade de gênero e de raça. “Eu me sinto representada por todos/todas vocês”, ressaltou.

A professora, assistente social e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Adriana Lohana foi a mediadora do evento. Em sua fala, ela enfatizou a importância do Ciclo de Plaestras realizado pela OAB/SE. Segundo ela, a Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe sempre foi parceira dos movimentos sociais. “Eu que venho dos movimentos sociais sempre encontro com a OAB nos espaços de conselhos, comitês e de controle social”, pontuou.

Na oportunidade, a mediadora saudou a todos os presentes em nome da presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, Adélia Moreira Pessoa. “Adélia é uma guerreira que esteve comigo no processo de retificação de registro de nome, processo esse que também teve o apoio da OAB. O meu processo de retificação de registro de nome foi o primeiro em Sergipe”, comentou.

Espaço democrático

Adriana Lohana também fez uma saudação especial a palestrante Robeyoncé Lima, a vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, Bruna Menezes Carmo e a coordenadora do Grupo de Trabalho “Raça, Gênero e Etnia”, Carla Caroline de Oliveira Silva. “Eu me sinto muito feliz por ser uma mulher trans e receber outra mulher trans e de luta nesse espaço da OAB, que é um espaço aberto para todes”, afirmou.

A palestrante Robeyoncé Lima agradeceu pelo convite para falar de uma temática tão importante que é a questão racial. “Junho foi o mês do orgulho LGBTQIA+ e colado com junho temos julho que é o mês das pretas. “Essas na verdade são temáticas que a gente deve estar discutindo e debatendo durante todo o ano e trazendo políticas públicas e reivindicando espaços de fala, de ocupação e de voz, para que a gente possa estar cada vez mais fazendo incidência nessas pautas tão importantes”, pontuou.

Robeyoncé Lima destacou a referência da cidade de Aracaju e que é a capital do Nordeste que teve uma trans como a vereadora mais votada. “Acho que a gente tem que fazer essa demarcação, Linda Brasil, nossa companheira inclusive de partido e que está aí como vereadora de Aracaju, a parlamentar mais votada nesse último pleito de 2020, com mais de cinco mil votos. Um salve para ela também”, ressaltou.

Enfrentamento duplo

A palestrante enfatizou a importância de julho trazer não somente o contexto racial, mas também o de gênero, porque quando se fala Julho das Pretas se tem a perspectiva não só da raça, mas também do gênero, das mulheres negras nesses espaços ou da ausência delas. “Infelizmente essa é uma realidade e eu acho que a questão do gênero e da raça está extremamente imbrincada numa história de quase 400 anos de escravidão do povo negro, que é um fator marcante na história do Brasil e traz resquícios de uma misoginia e de um racismo que perdura até hoje”, disse.

Ela ressaltou ainda que o Brasil vive um mito da democracia racial. “Democracia racial propriamente não existe e nunca existiu de fato. As disparidades que a gente vê em relação a vulnerabilidade se impõe com esse sistema. Acho que a pandemia do Coronavírus trouxe uma intensificação de uma vulnerabilidade de grupos minoritários, que já eram vulneráveis antes da pandemia”, frisou.

Robeyoncé Lima disse ainda que nesse mês de julho é possível fazer as reflexões sobre o cenário atual de enfrentamento duplo tanto do racismo como do machismo. “Podemos discutir e traçar estratégias para o enfrentamento a esses dois tipos de discriminação e de preconceito”, afirmou.

A palestrante também falou sobre a lacuna da participação da mulher nos espaços políticos, sobre a necessidade de preservação das integridades de todas que atuam como parlamentar e abordou o acentuado número de mortes de pessoas trans e a criminalização da diversidade, entre outros assuntos.

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