A primeira atividade do projeto Amigo Carroceiro, desenvolvido pela Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe, com o intuito de garantir melhores condições e vida para os condutores de carroças em Aracaju, foi realizada na tarde do último sábado (15) na capital. O evento contou com orientação jurídica, oficinas profissionalizantes, cuidados estéticos, recreação infantil e recursos de conscientização sobre o combate à violência contra a mulher e sobre a capacitação desses profissionais.
Construído em parceria com órgãos administrativos do município – como a Fundação Municipal de Formação para o Trabalho (Fundat); a Guarda Municipal de Aracaju; e as Secretarias Municipais do Meio Ambiente, da Juventude e do Esporte e da Assistência Social – a ação teve como pretensão dar espaço a oportunidades de qualificação profissional e reinserção no mercado de trabalho para os carroceiros e suas famílias, com o intuito de findar gradativamente a circulação de carroças na cidade.
Renata Mezzarano, presidente da Comissão de Defesa dos Animais, esteve à frente do projeto e explica o surgimento da ideia a partir da observação de que o tráfego de carroças não era apenas um malefício para os cavalos, mas que seus condutores e familiares vivem em situações de precarização. Por conseguinte, foi discutido que a humanização do tratamento a esses profissionais e a abertura para novas carreiras eram uma forma de incentivar a retirada das carroças das ruas, reorganizando as vidas desses grupos com dignidade e novas perspectivas futuras.
“Nesse dia festivo pode trazer esposa, filhos. Cadastra o carroceiro, cadastra a esposa. A Fundat vai tentar qualificar a todos dentro das próprias aptidões e, depois, tentar reinserir no mercado de trabalho. Se for autônomo, vai ajudar a caminhar sozinho. Assim, naturalmente, ele vai deixar a carroça e o cavalo de lado”, espera Renata.
A ação foi implantada primeiramente na unidade da Fundat do Jardim Esperança, no bairro Inácio Barbosa, por ser uma sede que já possui já possui 25 carroceiros cadastrados pela Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito de Aracaju (SMTT). Os cadastros foram uma medida do processo de emplacamento das carroças e habilitação dos condutores.
Carroceiro há anos, Juan Barros hoje tem 18, é casado, estuda o primeiro ano do Ensino Médio junto à esposa e acredita nas oportunidades de trabalho como a principal abertura para melhoras as condições de vida. Para ele, morar no bairro Santa Maria o torna alvo frequente de preconceito ao buscar emprego, pelos altos índices locais de criminalidade. Vivendo dificuldades diárias nas ruas, ele deseja que o evento seja uma abertura para que consiga um emprego estável.
“Todo mundo tem seu sonho de ter sua casinha. Todo mundo tem seu sonho de ter seus móveis. Cada mente tem seu guia, quer conquistar sua família, seus filhos e quer que tudo dê certo. Mas para isso tem que ter um trabalho para a gente poder ajudar”, afirma.
Para facilitar vontades como a de Juan a ser postas em prática, a Fundat, que já propõe diversos cursos de capacitação em suas unidades, manteve o trabalho de expandir os horizontes empregatícios dos profissionais e familiares no local. Jorge Araujo Filho, presidente da Instituição, conta que a iniciativa partiu depois de uma solicitação da OAB, e vê o evento como um marco na capital.
“Desde o momento em que nos procurou enquanto Secretaria de Esporte e presidente interino da Fundat, a gente se somou para trazer ações concretas e efetivas para o carroceiro. E nada contra o carroceiro. Capitaneada pela Comissão de Defesa dos Animais da OAB, a ação abriu portas no mercado de trabalho para os carroceiros, com empregos formais”.
Outro condutor de carroças presente, Sândalo Arcanjo, 46, passou pelo processo de cadastramento e pela orientação jurídica da OAB, mantida durante o acontecimento com a comunicação das Comissões de Direitos Humanos e de Defesa dos Direitos da Mulher. “Para mim está sendo ótimo, porque já vão colocar nossos currículos para a gente trabalhar em qualquer empresa que se interessar pela gente. A ajuda que estão dando para nós é muito boa e vai ser ótimo ter um emprego”, comemora.
Além disso, uma medida tomada foi a conscientização em relação ao combate à violência contra mulher. Letícia Rocha, membro da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, conversou individualmente com as mulheres e os esposos que compareceram ao ensejo. Com a entrega de panfletos informativos, a atitude visou minimizar casos de violência doméstica entre as famílias dos carroceiros.
“Muitas vezes se tem a ideia de que agressão é apenas física, e a gente conversou um pouco sobre relações familiares, sobre noções de masculinidade e feminilidade, quais são as consequências. Depois, falamos sobre os tipos de violência contra a mulher”.
Para descontrair e cuidar da autoestima de quem estava na festividade, aconteceu uma sessão de cuidados de beleza, para homens e mulheres. Luzia de Jesus, 38, não costuma cuidar da aparência frequentemente, mas gostou muito da novidade e saiu se sentindo mais bonita. “Muito bom o atendimento”.
A celebração também contou com um espaço de recreação infantil, com brincadeiras, cama elástica, pipoca e outros lanches. Riane Santos, uma das crianças que brincava no evento, contou o quanto gostava de se divertir e como aproveitou a ocasião para isso. “Estou gostando muito”, afirmou entre as atividades.