Com muita interação e troca de informações entre os participantes foi realizado com êxito na quinta-feira, 11, na Sala da Escola Superior de Advocacia (ESA/SE), o I Cine Debate de Pesquisa de Gênero da CDDM-OAB/SE. O projeto realizado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher – OAB/SE, em parceria com a Escola Superior de Advocacia (ESA/SE) e com a Caixa de Assistências dos Advogados de Sergipe (CAASE) atraiu advogadas, estudantes e pesquisadores do tema.
Nessa primeira edição, o filme escolhido para ser exibido foi Malena, do diretor italiano Giuseppe Tornatore, estreado por Mônica Bellucci e Giuseppe Sulfaro. Após a exibição do filme, foi realizado um debate sobre a temática do filme com a participação de Maíra Ezequiel, professora de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Claudiene Santos, professora do Departamento de Biologia e pesquisadora da área de gênero da UFS. Em seguida houve uma roda de conversa entre os participantes do Cine Debate e as debatedoras.
De acordo com a primeira secretária da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM), Bruna Menezes Carmo, o Cine Debate é um projeto desenhado pelo Grupo de Trabalho e Pesquisa de Gênero da CDDM, em parceria intersecional com o Grupo de Trabalho Mídia, Cinema e Artes da Comissão.
Temática
Segundo Bruna, o Cine Debate fez uma leitura do filme Malena dentro da perspectiva do estudo do artigo científico que foi disponibilizado antecipadamente no link de inscrição da ESA para os participantes.
“O artigo científico que foi escolhido e disponibilizado no site da ESA trata justamente da temática da objetificação feminina e da sexualidade em si dentro da obra de Simone de Beauvoir, que foi a filósofa feminista do Existencialismo francês que mais tratou na sua obra o segundo sexo, o tema do patriarcado, sendo uma das precursoras no estudo de gênero e da sexualidade”, afirmou.
Bruna ressaltou também que Malena é um filme clássico, e que muito embora seja do ano 2000, retrata uma época da Itália em tempos da 2ª Guerra Mundial. “Fala do fascismo, e como a figura da mulher foi inserida dentro daquela sociedade, enquanto a sua existência, no sentido de objeto, da objetificação feminina, do patriarcado, da cultura do machismo”, destacou.
Interlocução
Adélia Pessoa, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, ponderou que é gratificante verificar a interlocução da OAB com outras instâncias da sociedade, inclusive as universidades, de modo interdisciplinar, na discussão de matérias relevantes como a que se refere à questão feminina.
Ressaltou que ficou esclarecido no evento que o cinema realmente funciona como ‘pedagogia cultural’, servindo o debate para desvelar a realidade da banalização da Violência contra a mulher e dos estereótipos que permeiam nossa cultura.
Assim o debate sobre o filme Malena propiciou a discussão sobre a objetificação da mulher. “O corpo da mulher bela é explorado por todo o tempo; a mulher como objeto desperta paixão e ódio; a mulher bela e, enquanto viúva ou sem marido, sendo odiada pelas outras mulheres que a enxergam como ameaça”, pontuou.
Adélia informa ainda que outros cine debates ocorrerão, coordenados pelos GTs de Pesquisa de Gênero e de Arte, Mídia e Gênero, sempre em um formato interdisciplinar e interinstitucional.
Debatedoras
A professora Claudiene Santos, que é coordenadora do Grupo de Pesquisa de Gênero, Sexualidade e Estudos Culturais, discutiu em sua participação as questões relacionadas a gênero, as mulheres e a necessidade que existe de entender o corpo situado. “Quando a gente estuda o corpo, principalmente pela ótica da biologia, a gente estuda um corpo sem pensar nele como cultura. E esse corpo que nós temos está sujeito a essa cultura, inclusive a cultura da violência, do estupro”, pontuou.
Conforme a professora, Malena é um filme italiano da década de 40 e na sua análise durante o debate ela mostrou como as mulheres são tratadas na relação com os homens no contexto histórico e cultural do período. “Trouxe a discussão de como é que as mulheres e essas relações entre gêneros são abordadas na atualidade”, ressaltou.
A professora destacou do filme o quanto a mulher é muitas vezes criticada por ter um comportamento que socialmente, numa cultura patriarcal, destoa de uma norma hegemônica, o quanto ela é punida por não fazer o que socialmente se determina para ela. “O filme é pedagógico no sentido de que nos ensina muitas coisas, na medida em que estimula um debate crítico para que a gente possa repensar quem são essas mulheres na atualidade”, revelou.
Mulher objetificada
A professora do Curso de Cinema da UFS, Maíra Ezequiel, ressaltou em sua participação a reflexão sobre como o próprio cinema tem contribuído para um olhar sobre a mulher objetificada, de construir uma ideia geral de mulher ideal e glamourizada.
Segundo Maíra, existe uma teoria feminista do cinema que é forjada a partir dos anos 70 que foi muito invisibilizada pela academia e que levantam bons debates não só sobre os conteúdos dos filmes, mas sobre a linguagem dos filmes também.
“O modo como essas personagens são constituídas de certa forma também contribui para a cristalização dessa ideia geral de que a mulher está a serviço do homem, a serviço dos outros e que o corpo dela não é dela. Essa é uma das possibilidades de pensar teoricamente o feminismo dentro do cinema. Além do que para as mulheres produzirem filmes, o mercado do cinema é igualmente invisibilizante. Do ano passado para cá é que a gente veio descobrir que era uma mulher, Alice Guy-Blaché, quem dirigia os filmes dos Irmãos Lumière e não eles, depois de um século é que estamos desenterrando os nomes e as contribuições que as mulheres fizeram”, ressaltou.
Para Maíra debates como esse promovido pela OAB, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher são muito importante s para que a mulher possa entender quais os papéis que está ocupando.