Nesta segunda-feira, 8 de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Este dia é historicamente marcado pela luta por melhores condições de vida, trabalho e pelo direito ao voto. De acordo com a conselheira federal e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM) da Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe (OAB/SE), o 8 de março é sem dúvida um dia para reforçar a luta pela equidade.
“Com efeito, o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, é uma data instituída para provocar na sociedade a reflexão acerca dos avanços e desafios que ainda persistem no campo da defesa dos direitos da mulher, reafirmando a história das lutas das mulheres no contexto de transformação geral da sociedade”, afirmou Adélia.
Segundo Adélia, ao contrário do mito disseminado de que o Dia da Mulher foi instituído em função de um incêndio numa fábrica em 1857 que matou centenas de trabalhadoras nos EUA, a data é uma construção das mulheres feministas no início do século XX. Conforme ela, as informações que contestam a tese da greve estão contidas no livro “O Dia Internacional da Mulher – Os verdadeiros fatos e datas das misteriosas origens do 8 de março, até hoje confusas, maquiadas e esquecidas”, da intelectual canadense Renée Côté, que pesquisou durante dez anos em todos os arquivos da Europa, EUA e Canadá e não encontrou nenhum registro da greve de 1857.
“Precisamos repetir sempre que o objetivo da data é rediscutir o papel da mulher na sociedade em um esforço para tentar diminuir e, quem sabe um dia terminar, com o preconceito, a desvalorização e a violência contra a mulher. Muito foi conquistado nessa caminhada de lutas, mas ainda há muito caminho a percorrer”, ressaltou.
Principais lutas
A presidente da CDDM destacou ainda que a concretização dos direitos da mulher demanda múltiplas ações não só do Estado, mas a participação indispensável da sociedade. Segundo ela, há milênios a cultura de sujeição da mulher foi sendo construída e não será de forma rápida que mitos, preconceitos e estereótipos serão desconstruídos.
“É preciso que toda a sociedade se mobilize e nunca é demais enfatizar o papel fundamental da educação. Sabemos que mudanças dos padrões sexistas, de condutas e atitudes preconceituosas não ocorrem como consequência automática da sociedade democrática. Assim, há a necessidade de repensar os saberes que a educação formal – desde os primeiros anos escolares até a graduação e pós-graduação, as Escolas da Administração Pública, as Academias de Polícia, as escolas da Magistratura, da Advocacia ou do Ministério Público estão construindo”, pontua.
Adélia Pessoa revelou também que questões como a disparidade salarial entre homens e mulheres, a dupla jornada de trabalho e a sub-representação da mulher nos espaços de poder e na política ainda são desafios que vêm à tona atualmente. “As mulheres continuam a receber salários mais baixos que os dos homens em quase todas as ocupações; são maioria nos setores econômicos informais, estão em ocupações precárias mais vulneráveis, respondem pela quase totalidade dos empregos domésticos, e ainda persistem os ranços dos “guetos ocupacionais””, salientou.
Para a presidente da CDDM “é preciso repetir sempre: os efeitos da relação trabalho e família manifestam-se apenas entre as mulheres e não entre os homens; oferta de trabalho e qualificação determinam o trabalho masculino, enquanto o feminino enfrenta condicionantes familiares”.
Segundo ela, outro grave problema ainda existente nos dias atuais e que precisa ser superado é a violência de gênero. “O Brasil é um dos países que mais mata mulheres em todo o mundo, ocupando a quinta posição, e dessas mulheres, a maior parte das vítimas são negras. Ressalte-se persistirem resquícios da “naturalização” da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, disse.
Pandemia
Adélia acrescentou ainda que, as mulheres foram as mais afetadas pelo desemprego ocasionado pela pandemia e urge salientar que, um dos maiores desafios da contemporaneidade é promover a articulação entre família e trabalho, além de implementação de medidas para eliminação de desigualdades e discriminações nos ambientes de trabalho.
De acordo com a presidente da CDDM, é preciso destacar que as mulheres, em sua maioria ainda responsáveis pelo trabalho doméstico e cuidado com os filhos, estão mais oneradas com o aumento das demandas no espaço domiciliar, com a presença das crianças em casa, fechamento de escolas e creches. “Assim, além do trabalho em home office, quando é possível, estão elas também ocupadas com a educação de filhos, vários em atividades de aprendizagem telepresencial. A esperança é que os homens tenham aprendido a partilhar as responsabilidades das atividades domésticas que, culturalmente, foram impostas às mulheres”, afirmou.
Ela lembra que a divisão do trabalho doméstico, no Brasil, conforme várias pesquisas, apresenta 4 modelos. “O 1º modelo é o tradicional, em que o homem é provedor e a mulher cuida da casa e dos filhos; o 2º modelo é o de conciliação, no qual a mulher trabalha fora, mas concilia trabalho profissional e trabalho doméstico. Homem não concilia, não há exigências culturais nesse sentido; o 3º modelo é o da delegação em que a mulher delega a outras mulheres o cuidado com a casa, com a família, com as crianças; o 4º modelo é o da parceria, em que homens e mulheres repartem as tarefas domésticas e de cuidado da família”, explicou.
Adélia finaliza afirmando que é preciso lutar, através de uma educação continuada para a equidade, em todos os níveis escolares. “Inclusive nas Escolas Jurídicas, como as Escolas Judiciais, do Ministério Público, da advocacia, Academias de Polícia, etc, no sentido de mudança de padrões culturais de discriminação para que consigamos distribuir equitativamente as responsabilidades do casal nas tarefas domésticas, bem como em todos níveis de ensino”, salientou.