Fomentar a arte e a criatividade na juventude é um importante estímulo à reflexão sobre temáticas sociais e suas realidades. Com essa preocupação, a Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe – através da Comissão da Infância, Adolescência e Juventude – avaliou, nesta sexta-feira (24), os trabalhos de pintura, desenho e poesia das crianças e adolescentes de escolas municipais e estaduais de Sergipe que se inscreveram na competição. A apreciação contou com a opinião de proeminentes artistas sergipanos.
Essa é a terceira edição do concurso cultural, que, nos últimos anos, tem como proposta abrir o diálogo com os jovens da região e estimular que manifestem, através da arte, o seu sentimento relacionado ao debate em defesa dos direitos fundamentais à dignidade da pessoa humana. O tema atual foi denominado “Os 28 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente: Olhar por meio da arte”, centrando a produção artística dos participantes à Família; à Liberdade Religiosa; ao Gênero e Violência; ao Meio Ambiente; à Proteção dos Animais; e à Cidadania e Igualdade.
Segundo Glícia Salmeron, presidente da Comissão realizadora do concurso, há muitos trabalhos inscritos voltados para o âmbito da violência, vivenciada, sentida ou presenciada através dos meios de comunicação. As artes, que expressam o teor reflexivo de forma significativa, possibilitam o olhar da comunidade a esses sentimentos e o protagonismo dos jovens na abordagem de suas próprias questões.
“Nós tivemos um número crescente de participantes a cada ano e esse ano teve mais cem inscrições além das apresentadas até o ano anterior. Ou seja, mais de duzentas inscrições. Significa dizer que a OAB exerce, de fato, esse papel de estar junto à sociedade, enquanto entidade da sociedade civil. E, também, o quanto essas crianças e adolescentes estão vendo a importância de participar desse concurso cultural junto à OAB”, relata, ressaltando a importância da coletividade para a construção da iniciativa.
Trabalhado desde fevereiro pela comissão e lançado em maio, o edital foi divulgado pelas organizadoras através do site institucional da Ordem, de envios de e-mails a todas as escolars estaduais e municipais do estado e de passagens presenciais nas instituições da capital e do interior.
Arlene Batista, secretária-geral da comissão direcionada à infância e juventude, conta que, surpreendentemente, a maioria das inscrições partiu do interior do Sergipe, sendo observado o engajamento escasso da rede de ensino da capital. ”A gente ainda está fechando a quantidade, mas a maioria é de Itabaiana, Areia Branca. A gente percebeu que daqui da capital teve uma maior distribuição de escolas que não participaram. A gente percebeu um grande avanço em relação a isso, mas acha que pode melhorar”.
Também engajada na realização e divulgação do concurso, Clair Munareto, membro da mesma comissão, conta que sua equipe foi bem recebida em todas as instituições de ensino: “Foi uma experiência fantástica a participação da direção, coordenação, de todos os professores. Foi maravilhoso. Um excelente trabalho. Estamos sempre pensando na juventude do nosso país. Esses desenhos, essas poesias, pinturas, cada dia está revelando artistas e a gente fica muito feliz“.
Avaliação e presença da cena artística sergipana
Divididos entre a avaliação da produção imagética e textual, artistas sergipanos foram convidados a analisar as artes das crianças e adolescentes envolvidos com o projeto. O principal fator de avaliação foi a criatividade imersa no processo, além de originalidade e técnica.
Estiveram presentes na mesa avaliadora os artistas plásticos Fábio Sampaio, Gladston Barroso e Valéria Bonini, para observar métodos de feitura e significação das obras visuais. Para a seleção das poesias, foram convidadas a presidente da Comissão de Promoção Cultural da OAB, Eugênia Freire, e Ilmara Souza, membro da Academia de Letras de Aracaju.
Fábio Sampaio esteve presente no júri de todas as edições do concurso cultural e mencionou que, além do aumento nos interessados em participar, foi observado que o aprofundamento nas temáticas das produções também tem crescido. Para ele, é interessante perceber como os jovens se relacionaram com os formatos de artes analógicas, quando o comum na atualidade é a demanda de dispositivos tecnológicos.
“É sempre uma grande satisfação, porque são crianças e adolescentes e tem muita verdade no que eles fazem. E, ao mesmo tempo, quando eles se relacionam com os temas, a gente que trabalha com arte há muito tempo consegue ver essa verdade e acaba aprendendo. Eu percebo que eles se divertem e a gente acaba se divertindo também”, afirma.
Um dos quesitos recorrentes nos trâmites avaliativos é a certificação de que as obras realmente foram elaboradas pelas crianças e adolescentes, questão notada a partir da linguagem utilizada nos poemas. Ilmara Souza explica que os jurados ficaram muito surpresos com a qualidade do material avaliado, no entanto a tentativa de burlar o edital é uma prática que pode acontecer.
“Está sendo bastante observado, também, se aquele material foi feito, de fato, por uma criança. Estamos tendo esse cuidado em virtude de algumas pessoas tentarem modificar a poética das crianças, utilizando palavras que elas nem usam no seu cotidiano”, afirma.
Ao ler os escritos dos jovens, Eugênia Freire reforça o esforço posto pela Comissão da Infância, Adolescência e Juventude para a realização da proposta, valorizando a produção cultural nas escolas: “Esse concurso de poesias e pinturas tem sido um marco na gestão da comissão e para mim é um orgulho estar aqui e contribuir”.