O III Seminário Relações de Gênero, Religiões e Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe, realizado nesta terça-feira, 22, de forma virtual, abordou perspectivas acerca das relações de gênero, do público LGBTQIA+, do cristianismo, da fé e do afeto.
O evento foi idealizado pela Comissão de Liberdade Religiosa e contou com as explanações de Ciani Sueli das Neves, especialista em Direitos Humanos; Alexandre de Jesus, doutor em sociologia; Marina Correa, mestre em ciências da religião; e Mario Leony, diretor da RENOSP.
A abertura do seminário foi realizada pelo diretor-tesoureiro da OAB/SE, David Garcez, e pelo presidente e vice-presidente da Comissão, Douglas Costas e Isabella Sandes. A mediação das palestras foi realizada pelos integrantes da Comissão, Ana Paula Menezes e Júlio Hora.
“Já se passaram mais de 130 anos em que o Estado se tornou laico, mas ainda estamos em construção. Ainda é preciso lutar pela garantia de direitos como liberdade religiosa e liberdade de expressão e a OAB, é sem dúvida alguma, uma defensora dessa garantia”, abalizou David.
Em sua fala, Douglas falou sobre a trajetória da Comissão, criada em 2016, e afirmou ser uma imensa satisfação a realização do evento. “Temos a honra de promover a terceira edição do seminário, que será muito proveitoso e é uma de nossas formas de chegar à sociedade”.
Isabella pontuou que o debate sobre as relações de gênero, as religiões e os direitos humanos já faz parte da agenda da Comissão. “Temos o intuito de debater temas ligados às vivências sociais de pesquisadores e especialistas interreligiosos sob as mais diversas perspectivas”.
Primeiro ciclo de explanações
Ciani Sueli das Neves, especialista em direitos humanos, doutoranda em Direito, mestre em ciências jurídicas e pesquisadora do Grupo de Pesquisa Asa Branca Criminologia, foi a primeira palestrante a ministrar explanação no evento. Ciani fez uma análise e propôs uma reflexão sobre a disputa de narrativas relativas a direitos humanos.
“É preciso pensar sobre a relação entre os direitos humanos e os gêneros. A exemplo, eu pergunto onde estão as mulheres negras em um cenário no qual nós vemos tantas interferências e influências na condução do Estado e na definição de políticas públicas?”, disse.
A pesquisadora fez uma breve abordagem histórica, ponderando a importância de analisar a origem da sociedade brasileira. “O formato da sociedade do Brasil, assim como outros países da América, se deu com base na e dominação, desconsideração de povos existentes, etc”.
“Isso diz muito sobre a nossa trajetória religiosa. Há desconsideração de povos africanos e nativos em um projeto político que se constituiu com a perspectiva da homogeneização. Quando características são negadas, povos vão sendo coisificados e podados”, esclareceu.
Em seguida, Marina Santos Correa, doutora e mestre em ciências da religião e voluntária nos programas de pós-graduação em ciências da religião e culturas populares da UFS, proferiu palestra acerca de perspectivas e motes relativos às mulheres e aos cristianismos.
Marina falou sobre as relações desiguais dentro de alguns cristianismos, nos quais o homem é mandatário e a mulher deve ser submissa. “Isso não escapa dentro de nosso país colonialista, no qual religiões legitimam o discurso da naturalização da violência nos papeis sociais”, disse.
A especialista realizou um recorte histórico sobre o comportamento de Jesus nos evangelhos e os confrontos causados à época na sociedade que feriam ou diminuíam mulheres. “Havia confrontos entre Jesus e homens por comportamentos legalistas e opressores a mulheres”.
“Ao realizar a construção teológica de Jesus, o evangelho de Matheus registra nomes como os de Tamar, Ruth e Maria. Todas marginalizadas após episódio morais reprováveis para padrões culturais do povo de Israel. Jesus fez uma quebra de paradigmas e as garantiu dignidade”.
Segundo ciclo de explanações
O segundo ciclo de palestras contou com as explanações de Alexandre de Jesus, doutor em sociologia, que abordou as reações de gêneros e os cristianismos; e Mario Leony, diretor da RENOSP, que falou sobre a fé o e afeto sob as perspectivas da população LGBTQIA+.
Confira aqui a matéria sobre as palestras.