O dia começou chuvoso no município sergipano de Lagarto, mas esse fator climático não impediu a participação de advogados e populares no ato de desagravo público ao estado de Sergipe e ao município promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Sergipe, nessa terça-feira, 10.
A ação da OAB Sergipe deu-se devido aos ataques sofridos por sergipanos e lagartenses, nas mídias sociais, em decorrência do bloqueio do WhatsApp nos dias 2 e 3 de maio. A medida judicial deferida pelo Juiz Marcel Maia Montalvão, da Vara Criminal de Lagarto culminou em ataques de xenofobia e crimes de injúria racial pelas redes sociais.
O presidente da Seccional, Henri Clay Andrade explicou que este foi um ato de levante cívico que tem tido repercussão e aceitação em todo o estado de Sergipe. “Com certeza, repercutirá, no Brasil afora, porque é um ato em defesa da dignidade do povo de Sergipe, a partir de lagarto. Um ato feito em Lagarto para o desagravo público ao povo de Sergipe. Nós, lagartenses, estamos duplamente ofendidos, por sermos lagartenses e por sermos sergipanos”, destacou.
Henri Clay enfatizou ainda a grandiosidade do povo sergipano. “Nós somos um povo acolhedor e não aceitamos sofrer qualquer ato de discriminação por sermos o menor estado, geograficamente, do país. Em dignidade, em firmeza, em sabedoria e em trabalho, nós somos gigantes. Nós não temos complexos de tamanho, até porque a grandeza está nos gestos, o tamanho está na alma de um povo, na conduta ética, no trabalho e na dignidade de um povo.”
Para o presidente da Regional da OAB em Lagarto, Eduardo Maia, este ato é histórico. “Representa a reafirmação de uma cidade grandiosa, como é a cidade de Lagarto; de um povo grandioso, como é o lagartense; de um estado como Sergipe, que é notório. Não obstante a sua extensão territorial, é um estado que tem história dentro da nossa nação. Sergipe tem notória relevância. Este ato vem coroar toda essa história e repudiar todos esses atos que violem a honra do nosso povo”, comentou.
Eduardo Maia disse ainda que o ato pretende reafirmar a independência funcional do magistrado Marcel Maia Montalvão. “Desagravá-lo em ato público, desagravar o povo sergipano, é um ato de extrema importância para a cidadania. Como a OAB é a casa da cidadania, nada mais justo que a Ordem esteja capitaneando esse processo”.
Segundo o Procurador do Município de Lagarto, Antonio Lima, a cidade não poderia ficar silente diante de tantas manifestações de ódio. “Não poderíamos deixar de reagirmos, de dizermos que não aceitamos isso. Nós, lagartenses, não aceitamos isso.Nós, sergipanos, não aceitamos isso. Nós, nordestinos, não aceitamos isso. E, nós, brasileiros não podemos aceitar essas tentativas de segregações de um mesmo povo”, pontuou.
O secretário geral da Ordem, Aurélio Belém, lamentou os atos xenofóbicos. “Estamos em pleno século 21, e ainda temos de nos deparar com situações como essas. A OAB não poderia assistir a isso passiva, com sua história a OAB tinha o dever, e assim o fez. Nosso estado é pequeno só no tamanho, mas a história é muito grande. Eu, que tenho uma filial do meu escritório aqui, há mais de dez anos, sinto-me lagartanse, sinto-me ofendido por isso. Mas como sergipano, como advogado e como dirigente da Ordem, sinto-me no dever de dizer não. Não aceitamos essa techa, repudiamos essas condutas discriminatórias.”
O morador da cidade de Lagarto, José Messias de Santana, 87 anos, fez questão de participar do ato. “Fiz questão de vir, porque eu me senti ofendido. Achei a iniciativa da OAB ótima e não poderia ter sido melhor, não poderia deixar de existir”, comentou.