A última semana foi marcada pela realização de uma vasta programação em comemoração ao Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro. A Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe (OAB/SE), representada pela Comissão de Direitos LGBTQI+, presidida pela advogada Mônica Porto Cardoso, esteve presente aos eventos da VI Semana de Visibilidade Trans, promovida pela Associação e Movimento Sergipano de Transexuais e Travestis (Amorsetrans) em parceria com a OAB/SE, e diversas outras instituições.
O evento também contou com a participação do João Jorge Neto, presidente da Comissão de Diversidade Sexual e População LGBTI da OAB-PA e membro da Comissão Nacional da Diversidade Sexual e Gênero do Conselho Federal da OAB.
João Jorge participou no dia 31, da Mesa: Políticas Transinclusivas. Ele, que além de advogado é também psicólogo, ressaltou que a Resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) – que diz que não cabe a profissionais da Psicologia no Brasil o oferecimento de qualquer tipo de terapia de reversão sexual, uma vez que a homossexualidade não é considerada patologia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) – é pioneira, serviu de referência internacional , no entanto foi a Resolução, assim como foi a 01/18, as mais atacadas, inclusive judicializadas.
Violência
“A importância de a gente ter conhecimento dessas situações passadas é para que elas justamente não se repitam. Vivemos um momento de neofascismo, de nazismo, de ideias totalitárias, de um cenário inclusive contraditório porque nós tivemos sim alguns avanços e nós não podemos deixar de reconhecê-los, no entanto nós também temos todos os dias muitos ataques, e ataques esses que não atingem apenas o exercício da cidadania, mas principalmente o exercício do direito como o da vida. O Brasil é infelizmente é o País que mais mata travestis e transexuais e que pratica violência LGBTQIfóbica de modo geral”, afirmou.
João Jorge disse que se sente parte de um grupo privilegiado por nunca ter passado por situações de violência muito reais. “Eu sofri , assim como todas as outras pessoas sofrem a violência velada, a simbólica, a do olhar”, disse.
Ele ressaltou ainda que pensar em políticas inclusivas é de fundamental importância. “Hoje talvez o que mais aflija a nossa condição de existência seja a possibilidade de ter autonomia e protagonismo na sociedade”, enfatizou.
Discriminação
De acordo com Mônica Porto, foi de extrema importância a participação da OAB/SE no evento porque ainda há muita discriminação em relação à população trans. “Tivemos a participação de órgãos como o Ministério Público, a Universidade Federal de Sergipe e a própria OAB e isso foi fundamental para que a sociedade pudesse perceber a importância deste tema, do debate deste assunto”, afirmou.
A presidente da CasAmor e voluntária da Amorsetrans, Linda Brasil, disse que a VI Semana da Visibilidade Trans parte do Dia Nacional da Visibilidade Trans, comemorado em 29 de janeiro. Segundo ela, o evento é uma oportunidade de discutir vários temas que provocam a invisibilidade e exclusão da população trans. “Desde o início a gente realiza o evento na UFS porque na grade curricular da Universidade são poucos os cursos que ainda abordam esses assuntos”, ressaltou.
O professor do Departamento de Educação e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFS, Alfrâncio Ferreira Dias, revelou que a UFS sempre foi uma das instituições que mais apóia o movimento trans.
Homenagem
“Esse tipo de evento nos ajuda a refletir sobre como estudantes e profissionais da UFS podem aprender com as pessoas trans e travestis sobre gênero, sexualidade e desfazer a ideia de que existem predeterminações em relação a gênero e sexualidade. A Universidade ganha muito porque um evento como este estimula a aproximação do movimento trans, os ativismos, da UFS, além de possibilitar que os estudantes da graduação conheçam mais, saibam mais sobre a temática trans, sobre a política trans e as principais necessidades que as pessoas trans têm, tudo isso faz com que a gente diminua os estereótipos e preconceitos”, declarou.
A vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher DA OAB/se, Valdilene Oliveira Martins, foi homenageada pela Associação de Travestis e Transgêneros de Aracaju (Astra), na noite do dia 29, durante evento de abertura da VI Semana de Visibilidade Trans.
Programação
A programação da VI Semana de Visibilidade Trans iniciou no dia 29, às 19h, com a celebração dos dois anos de existência da CasAmor. A iniciativa promovida pela Associação e Movimento Sergipano de Transexuais e Travestis (Amorsetrans) contou com debates, discussões, oficinas e também apresentações artísticas e homenagens.
Na quinta-feira, o evento teve continuidade das 14h às 17h, na Didática V da Universidade Federal de Sergipe (UFS), com a realização de uma mesa redonda sobre o tema “Saúde Mental e Religiosidade”. A mesa teve como facilitador Daniel Lima e como participantes: Thiffany Odara (BA), Suzi Leite, Alice Pagan e o professor pastor Alexandre de Jesus. E das 18h30 às 21h houve Roda de Conversa sobre o tema “Ideologia de Gênero” e preconceito contra a população LGBTQI+. A mesa contou com Ariel Matos como facilitadora e contou com a participação da professora Maíra Ielena, Ulisses e Giulianna Nonato (SP).
No dia 31, das 9h às 12h, no Auditório da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe (ADUFS) houve a realização da Oficina – Empregabilidade das Pessoas Trans, com a participação de Anne Campos, Arkhos Miguel e Geovana; das 14h30 às 17h, na Didática V da UFS, foi realizada a Mesa: Políticas Transinclusivas, tendo como facilitadora Divina Menezes, e a participação de Murilo Gonçalves (Ce), Andrea Brasil (capacita Trans – RJ) e Rafael Sotero; e às 18h30, no Auditório da Reitoria ocorreu a Mesa: Espiritualidade e Transgeneridade, tendo como facilitadora: Linda Brasil, e as participações de Benjamin Teixeira de Aguiar e Romero Venâncio.
A programação encerrou no sábado, 1º de fevereiro, com a realização de performances artísticas e homenagens a Linda Brasil e Maria Luisa, no Teatro João Costa, no Centro Cultural de Aracaju, na Praça General Valadão, Centro de Aracaju.