Nessa segunda-feira, 1º, pela manhã, foi realizada no Plenário da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), a Audiência Pública “55 Anos do Golpe Militar – Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”. O evento foi uma iniciativa do deputado Iran Barbosa, PT, e contou com palestras do professor Doutor José Vieira da Cruz, historiador e vice-reitor da Universidade Federal de Alagoas; e da professora doutora Andréa Depieri, do Departamento de Direito da UFS e Secretária-Executiva da Comissão da Verdade em Sergipe (CVS).
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Sergipe (OAB/SE) esteve representada na audiência pelo presidente da Comissão Observatório de Atos Atentatórios contra a Democracia, José Alvino Santos Filho, que participou da mesa e do debate. Também estiveram presentes os advogados Wesley Santana Santos, coordenador do Núcleo de Educação da Comissão de Direitos Humanos e Maurício Lisboa Lobo, coordenador do Núcleo da Saúde da Comissão de Direitos Humanos. A procuradora Martha Carvalho Dias de Figueiredo, do Ministério Público Federal também participou do debate.
O presidente da Comissão Observatório de Atos Atentatórios contra a Democracia, José Alvino Santos Filho ressaltou a importância do evento. “Gostaria de agradecer o convite, cumprimentar ao deputado Iran Barbosa pela iniciativa. Particularmente, Sergipe tem algumas páginas extremamente importantes nessa história. Tivemos aqui grandes protagonistas na luta pela democratização que foram muito bem lembrados e homenageados na fala do professor Vieira”, destacou.
Sobre aqueles que insistem em afirmar que não existiu a ditadura no País, ele salientou que todos na audiência estavam diante de documentos vivos. “Estamos na presença de documentos humanos e eu saúdo a todos que estão construindo este evento na pessoa desse símbolo da resistência democrática do Estado de Sergipe, que pagou a sua quota coletiva e ainda mais sua quota pessoal, eu me refiro ao nosso admirável cidadão Milton Coelho, que mais do que todos nós, roubaram-lhe a visão, mas não roubaram a sua consciência e muito menos a sua dignidade. Portanto, aqueles que hoje insistem em afirmar que não houve ditadura neste País estão faltando profundamente com o respeito para com essas pessoas. Por isso, eu me solidarizo a Marcélio Bomfim, me solidarizo a Milton Coelho, porque eu tento imaginar o que Milton Coelho sente quando ouve alguém cinicamente dizer que não houve ditadura”, disse.
Em seu discurso José Alvino indagou ainda sobre como é possível alguém fazer a defesa de algo tão repulsivo como o golpe militar. “Como é possível nós termos intelectuais, agentes políticos, membros do Judiciário fazendo coro a esse discurso e apologia aquilo que se praticou durante o regime militar? Eu encontro explicação apenas dizendo que devem ser, e certamente são, ouvidos moucos, mentes alienadas, corações insensíveis e personalidade cínicas que vêm a público fazer a defesa de pessoas que entraram para a história com as mãos sujas do sangue de inocentes”, enfatizou.
José Alvino também disse que era criança quando o golpe militar ocorreu, mas ao entrar na universidade participou ativamente da campanha pelas Diretas Já! “Fiz caravanas a Brasília, estava no gramado do Congresso Nacional, naquele que foi um dia dos mais frustrantes da vida nacional, quando a Emenda Dante de Oliveira foi rejeitada, foi derrotada no Congresso Nacional”, afirmou.
Ele destacou ainda que pessoas próximas a sua família foram presas. “Eu me mudei para a Avenida Valter Franco, em Itabaiana, onde ainda hoje meus pais vivem, no mesmo ano em que estava sendo realizada a Operação Cajueiro e o nosso vizinho estava preso, Dr. José de Góes, conhecido como Goisinho. E todo mundo perguntava qual o crime que esse rapaz praticou? Ele é comunista, ele é subversivo, esse foi o crime. Tenho a honra de que a minha família seja unida a família do Sr. Faustino. Eu tinha pessoas da minha família presas sim, torturadas e não será nenhum cínico, mal-intencionado que poderá afirmar na minha presença que não existiu a ditadura. Todos nós tivemos alguma forma de sofrimento naquele momento, uns mais outros menos, um exemplo daqueles que sofreram mais e em nome de quem eu presto a minha reverência na pessoa de Milton Coelho, que é a nossa imagem viva do que foi aquele regime bárbaro que alguns querem reviver. Tenho absoluta convicção que se depender de nós este País jamais voltará a ser uma ditadura”, disse.
A audiência pública contou com a participação de populares, de representantes de entidades do movimento sindical e social e de parentes de pessoas que viveram a ditadura. Quatro ex-presos políticos do regime de 64, Delmo Naziazieno, Marcélio Bomfim, Milton Coelho e João Augusto Gama estiveram presentes e deram testemunhos sobre o período do regime militar.