Nessa terça-feira, 22, foi realizado o segundo dia do Webnário Setembro Verde. Promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil, em Sergipe (OAB/SE), por meio da Comissão de Acessibilidade e dos Direitos da Pessoa com Deficiência. A presidente da Comissão, mestre Kamila de Souza Gouveia, fez a abertura e saudou a todos os participantes e palestrantes do evento.
Durante o evento foram tratados os temas “Conversando sobre capacitismo, preconceito e barreiras atitudinais”, abordado por Lucas Aribé e Vinícius Schaefer; e “Práticas, empoderamento e humanidade: projetos”, que teve como palestrantes o professor Doutor Mário André Farias sobre a criação de tecnologias assistivas para ensino do português a pessoas surdas. Além disso, houve a apresentação do livro “Lado a Lado: trajetória da menina surda em território ouvinte”, da jornalista Mariana Kovelis, e que contou com a participação da irmã Yoana Kovelis, para quem o livro foi dedicado; e a apresentação do Projeto Metamorfose pelos seus idealizadores, Thialy Macedo e Bruno Silva.
O vereador Lucas Aribé ressaltou a importância do tema abordado na palestra: “Conversando sobre capacitismo, preconceito e barreiras atitudinais”. “É um tema reflexivo que nos faz pensar no significado do Dia Nacional e Municipal de Luta da Pessoa com Deficiência. É um dia de luta e nós ainda precisamos lutar por direitos, pela acessibilidade, por respeito, contra o preconceito, contra o capacitismo. Nós precisamos ainda mostrar que existimos, que temos direitos e que não aceitamos mais qualquer tipo de discriminação, de preconceito e de capacitismo com relação a pessoa com deficiência. A deficiência não é uma doença, a deficiência está no ambiente que nós vivemos e em parte dessa sociedade que nós vivemos que oferece barreiras atitudinais”, afirmou.
Luta
Segundo Lucas Aribé, o capacitismo atrapalha, afasta e isola a pessoa com deficiência. “Estamos todos vivendo em um período de isolamento social, mas existem pessoas com deficiência que estão no isolamento do isolamento, impedidas de estudar porque não lhes é dada a condição de utilizar uma plataforma digital, de conversar com pessoas do seu convívio por conta desse isolamento. A gente precisa de uma mudança de comportamento. O cumprimento das leis é obrigação do gestor que tiver de plantão e do cidadão também. É inadmissível que em pleno século XXI nós ainda estejamos aqui falando sobre luta da pessoa com deficiência, luta por direitos”, afirmou.
O professor Vinícius Schaefer destacou em sua fala a luta, dificuldades, barreiras que a pessoa com deficiência tem. “Acredito que temos que lutar todos juntos. Falta muito a prática, as ações. A questão da lei, ela só é um papel onde as pessoas ficam mostrando ali que existem, uma coisa de interesse político, mas as pessoas não sentem na pele, o que nós precisamos, precisamos de um apoio, não é uma luta tão simples assim. É uma luta de muito tempo e não tem um fim. Temos que seguir e o caminho não é fácil. Essa luta segue com todos nós juntos para que a gente alcance as melhorias”, disse.
Segundo ele, muitas vezes a comunidade surda não se sente do grupo das pessoas com deficiência por conta da dificuldade com a comunicação. “Esse mês de setembro é muito importante, tem vários eventos e nós homenageamos as pessoas com deficiência, as pessoas surdas, os intérpretes e tradutores da língua de sinais, mas a gente tem que pensar que setembro não é só um mês de eventos porque o mês de setembro termina e as pessoas acham que a luta acaba, mas a luta ela continua”, ressaltou.
Lado a lado
A palestrante Mariana Kovelis falou sobre o livro de sua autoria “Lado a Lado: trajetória da menina surda em território ouvinte”. O livro-reportagem que é resultado do projeto do final do curso de Jornalismo conta a história da irmã dela, Yoana Kovelis.
Conforme a autora, a ideia de escrever o livro foi para dar uma oportunidade para as pessoas com deficiência, no caso em específico o surdo, de ter um espaço para falar como ele pensa, como reage a situações e enfrenta a vida. “No livro eu conto o momento em que ela é pedida em casamento até o momento do casamento em si. E esse período na vida mulher é muito significativo”, afirmou.
Mariana revelou que os surdos vivem muito na solidão, eles são colocados à margem. “Isso acontece desde sempre, eles eram marginalizados e não estavam inclusos na educação. Graças a Deus a gente vem numa evolução e esse evento é a prova disso de que agora as pessoas param para olhar pra eles e se importar com isso”, disse.
Yoana Kovelis disse que achava que se tratava de um livro normal, que ia relatar sobre a vida dela e que ficou emocionada quando a irmã fez a dedicatória e lhe deu o livro. “O livro conta a experiência de um período da minha vida. Eu sou surda e sou casada com um ouvinte e as pessoas sempre debatem sobre isso, sobre como eu casei com alguém ouvinte de uma outra cultura, como deve ser o nosso dia a dia já que temos costumes e culturas diferentes”, revelou.
Para adquirir a obra e obter mais informações sobre o livro, os interessados devem entrar em contato pelo Instagram da autora @marikovelis.
Projeto Metamorfose
Durante o Webnário também foi apresentado o Projeto Metamorfose pelos seus idealizadores, Thialy Macedo e Bruno Silva. De acordo com Thialy Macedo, o Projeto Metamorfose completou um ano no último dia 3 agosto. “O projeto une muito a ideia da deficiência com a visão fotográfica. A gente realiza ensaios coletivos de pessoas com deficiências físicas. É o tipo de deficiência mais evidente e é a que mais choca, muitas vezes, porque a dificuldade de locomoção causa um certo estranhamento. A gente quis fazer esse tipo de ensaio coletivo para quebrar o padrão que a gente está acostumado a ver e trazer também a realidade da pessoas com deficiência”, afirmou.
Segundo ela, os ensaios são feitos com pessoas do convívio deles, dos projetos voluntários. “Começamos com Natiele e Maria Alice. Natiele tem uma deficiência no pé desde o nascimento, e Maria Alice que tem uma perna amputada desde os 7 anos de idade por causa de um câncer ósseo”, contou.
O fotógrafo Bruno Silva ressaltou que os ensaios são totalmente gratuitos e voluntários. “A fotografia é só a porta de entrada para a gente conseguir conhecer a história das pessoas”, pontuou.
O contato para obter mais informações e participar do projeto é o Instagram @_projeto metamorfose.
Projetos
O professor Doutor Mário André Farias abordou a temática “Práticas, empoderamento e humanidade: projetos” e na oportunidade falou sobre a criação de tecnologias assistivas para ensino do português a pessoas surdas. De acordo com o professor, esse é um dos projetos trabalhados no Grupo de Pesquisa em Ferramentas e Estratégias Educacionais do Campus Lagarto do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS).
“Esse é um projeto voltado especificamente para a continuidade do processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa (L2) para surdos. O L2 para surdos é um projeto da orientanda e servidora do Campus IFS de São Cristóvão, Scheilla Rocha, que é uma tecnologia assistiva desenvolvida com o propósito de melhorar a Língua Portuguesa para surdos”, ressaltou.
Conforme o professor no início do projeto, foi identificado que o surdo tem uma dificuldade muito grande com a Língua Portuguesa, a leitura e a escrita. “Diante dessa dificuldade foi que surgiu a ideia de elaborar e criar uma tecnologia assistiva para ajudar o surdo. O L2 é baseado na linguagem de sinais, na visualização, em imagens, em vídeos e tem como base a LIBRAS, a L1, que é linguagem principal dos surdos.
Mário André Farias também destacou outros projetos da área de inclusão: “Educação Inclusiva: A percepção dos colegas de alunos com deficiência”, de autoria de Juliane Costa; “Podcast como Elemento de Educação Inclusiva”, de autoria de Osmar da Silva Souza; e Diversidade Sexual e Combate ao Preconceito Homofóbico no IFS – Campus Lagarto.